A primavera ainda não chegou, mas o calor no fim do inverno já trouxe uma invasão de mosquitos na região do Rio Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. De acordo com a administração municipal, o Portal de Atendimento da Prefeitura de São Paulo 156 já recebeu 526 reclamações sobre mosquitos apenas nas duas primeiras semanas de setembro, ante 221 em todo o mês de agosto. Em julho foram realizadas 331 solicitações.

Moradores que têm reclamado constantemente nas redes sociais fizeram um abaixo-assinado para tentar solucionar a questão. Até o momento, o documento tem 26,6 mil assinaturas. “Solicito que os políticos e entidades da cidade de São Paulo verifiquem e façam a dedetização e também incluam em sua agenda periódica para população não pagar a conta com a sua saúde em risco”, diz o texto da petição.

A redatora Lívia Vasconcelos, de 31 anos, mora na Rua Mourato Coelho há cerca de dois anos e meio e, segundo ela, nunca havia sentido na pele, literalmente, uma infestação de pernilongos nesta dimensão. A moradora disse que os mosquitos têm incomodado há duas semanas, mas, na última sexta-feira, 11, a situação ficou ainda pior. “Eu virei a noite, não consegui pregar o olho. Quando dormia, mais mosquito me picava. Eu estou com o corpo inteiro picado, braços, costas, pernas. Está muito calor. Imagina dormir com a janela fechada, com calça, casaco, cobertor, não tem condições”, disse.

No sábado, dia 12, Lívia contou que saiu para comprar ventilador, raquete elétrica e repelente corporal para tentar amenizar o problema. Lá se foram quase R$ 350. Além destes produtos, a redatora disse que também queria o repelente de tomada, mas não encontrou o suporte nos supermercados da região, apenas o refil. “Está parecendo o começo da pandemia, quando todo mundo foi comprar álcool gel e não tinha”, comparou.

“Se pernilongo passasse coronavírus, Pinheiros era dizimada numa única noite”, escreveu Lívia no Twitter, ao publicar fotos da ação dos mosquitos no seu corpo. Apesar de não transmitir coronavírus, os insetos podem causar outras doenças. “É um perigo para todo mundo. Não é só a picada que dói, a gente pode pegar alguma doença”, ressalta Lívia.

Veronica Bilyk, presidente da Associação de Moradores e Amigos dos Predinhos de Pinheiros (AMAPP), disse que começou a receber muita reclamação de moradores devido à infestação de mosquitos. De acordo com ela, essa é uma situação atípica no que se refere à quantidade de insetos e à época do ano. “Nós fizemos um mutirão de ligações no 156 e no aplicativo, que é a maneira correta”, disse Veronica.

De acordo com ela, na última semana, a Prefeitura fez a aplicação do fumacê por três dias, em Pinheiros. No entanto, a presidente da associação informou que os mosquitos ainda resistem e ponderou a ação “paliativa” e “danosa” da substância. Ela citou o prejuízo aos agentes polinizadores e a alguns cachorros, que passam mal após a passagem do fumacê.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo informou que, por meio da Secretaria Municipal da Saúde, “realiza diariamente ações de monitoramento e controle preconizadas pelo Programa de Controle do Culex no Rio Pinheiros. A Unidade de Vigilância em Saúde (UVIS) Lapa/Pinheiros tem realizado ações de fumacê para o combate aos mosquitos, por meio de Ultra Volume Baixo (UBV) veicular em toda a região”.

A Prefeitura disse ainda que a aplicação de inseticida vem ocorrendo desde o início de agosto e continuará nas próximas semanas, cumprindo todos os critérios técnicos do programa. Dentre as ações preventivas realizadas estão: monitoramento quinzenal de todos os córregos pertencentes à área de abrangência da região; envio de relatórios mensais à Divisão de Vigilância em Zoonoses e à Subprefeitura local; solicitação de manutenção e limpeza de bueiros e galerias; vistorias nos endereços solicitados; mapeamento e diagnóstico de área, com o cruzamento de informações obtidas em vistorias; aplicação de inseticida em áreas delimitadas, disse em nota.

A Secretaria Municipal das Subprefeituras informou também que realiza limpeza de córregos na região periodicamente. Desde janeiro deste ano, foram limpos 1.223.123 metros de extensão.

O governador João Doria (PSDB) publicou na manhã desta segunda-feira, 14, que o trabalho de despoluição do Rio Pinheiros continua em meio à pandemia do novo coronavírus. De acordo com ele, o rio estará limpo até 31 de dezembro de 2022. A reportagem aguarda retorno da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente.