O ser humano e a tecnologia estão cada vez mais interligados. Começa a não ser tão simples discernir as fronteiras de um e outro em nosso cotidiano. Muitas atividades tipicamente desempenhadas por pessoas estão, aos poucos, migrando, total ou parcialmente, para dispositivos que simulam a capacidade de raciocinar, perceber e resolver problemas.

Sua agenda reconhece e incorpora um evento que foi convidado numa rede social; seu Uber reconhece que você faz determinado percurso num dia da semana e já te sugere o destino de sua corrida; sua universidade percebe que você está prestes a trancar matrícula e te oferece opções alternativas de cursos. Estas são algumas aplicações muito simples da inteligência artificial.

A contemporaneidade se caracteriza pela forma como sistemas, processos e humanos se engendram, se articulam e avançam em todas as áreas de negócio e da sociedade. Para além de identificar o produto certo para desejos ainda nem percebidos por consumidores, é possível prever enchentes, incêndios naturais, doenças e até suicídios, proteger animais em extinção, e reduzir o desemprego. E uma lista infindável de outros exemplos, em áreas tão diversas quanto saúde, agricultura, logística, finanças e consumo, trabalham no que vai, por um lado, trazer grandes evoluções, por outro “disruptar” indústrias inteiras.

O ser humano sempre tentou melhorar a sua forma de interagir com o mundo que lhe era dado. Assim, surgiu a roda, o carro, o avião. Essa é a essência da tecnologia. O que mudou foi o advento da tecnologia de informação e comunicação, coroada pela internet e a velocidade das evoluções. A capacidade de armazenagem de grandes massas de dados em nuvem, mais recentemente, permitiu ainda perspectivas analíticas nunca antes possíveis. Destas análises emergiu a possibilidade de dar mais “inteligência” às “coisas”, fundindo tecnologias das diversas áreas de conhecimento e dos mundos digital, físico e biológico.

Nesse cenário, vimos surgir os tech-guys, uma classe mítica de profissionais, capazes de traduzir, em códigos, demandas humanas para que as máquinas pudessem nos devolver inteligência aplicada a toda sorte de desafios existenciais e operacionais. E, de repente, toda uma geração de profissionais se viu desafiada a se provar necessária perante a imponderável ubiquidade da tecnologia.

Não é preciso, contudo, ter cursado ciências da computação para navegar nesses mares. O importante é entender profundamente do seu negócio e, a partir desta perspectiva, investigar tecnologias que possam melhorar a qualidade intrínseca e extrínseca de seu produto, sob a expectativa do seu cliente e consumidor, vislumbrando oportunidades e ameaças concretas.

Por trás de todo algoritmo tem um ser humano raciocinando, se relacionando com o mundo, e codificando com base em suas crenças, seu repertório cultural e técnico. Por isso também a importância de se dar mais diversidade de gênero, de raça, de idade e socioeconômica a esse grupo que está delineando a “inteligência” universal.

A inteligência possui dimensões sociais e tecnológicas. A tradicional área de TI nas empresas tem de mudar sua missão. Seu foco não deve ser mais só softwares e hardwares (que são meios), mas sim a mudança da cultura organizacional. Todos as pessoas na organização precisam acreditar (e verbalizar) que são de tecnologia e de inovação.

Tecnologia é cultura e entender cultura é um trabalho fundamentalmente humano. As tecnologias vão sempre se suceder. É preciso ter uma postura diante disso. Estar atento e aberto. Não será mais possível seguir ativo profissionalmente sem essa mudança de mindset, sem agregar essa perspectiva em tudo que analisamos. E nesse sentido, todos somos de tecnologia.