Guarda-sóis abertos, cadeiras montadas, piscinas movimentadas e muitos turistas aproveitando o sol baiano. Esse foi o cenário de julho do Tivoli Ecoresort Praia do Forte (BA), da rede tailandesa Minor, que administra, além do hotel do Nordeste, o Tivoli Mofarrej São Paulo e o NH Curitiba. O desempenho da unidade na Bahia foi tão bom que chegou muito perto do índice registrado no mesmo mês em 2019, no ano pré-crise. Para o português Marco Amaral, vice-presidente de operações e desenvolvimento da Europa e América do Sul do grupo Minor, as incertezas em torno das restrições para entrada de brasileiros em outros países e a alta do dólar e do euro levaram o turista para destinos nacionais. “O comportamento de retomada do mercado de lazer foi mais rápido que o esperado. A pandemia foi um impeditivo para viagens internacionais e o Brasil tem um turismo nacional muito forte”, disse. “O que está permitindo essa recuperação é justamente o turismo de lazer.” O Brasil representa 2,5% do faturamento global da Minor, que administra 516 hotéis em 53 países.

O grupo planeja faturar em 2021 R$ 160 milhões nas três unidades brasileiras, o que resultaria em queda de 23,8% sobre o resultado de 2019, quando alcançou R$ 210 milhões. Ainda assim, bem acima dos R$ 113 milhões do ano passado. E é justamente o resort baiano que está contribuindo para que o tombo seja menor em relação ao ano pré-Covid. Na prática, o hotel na praia do Forte demorou mais para ser impactado pela pandemia, já que o isolamento social imposto pelo aumento de casos começou em março de 2020, logo após o fim da temporada de verão. E também acabou sendo beneficiado, de certa forma, pelo aumento de casos no início deste ano, após uma desaceleração no fim do ano. “Quanto mais piorava o índice de contaminação em São Paulo, mais melhoravam os números de ocupação na Bahia. Muita gente decidiu fazer o confinamento, durante a segunda onda, no hotel no Nordeste”, afirmou o vice-presidente.

A previsão de receita do resort baiano para este ano é de R$ 100 milhões, uma redução de 16% sobre os R$ 120 milhões de 2019. A taxa de ocupação dos 283 quartos deve chegar a 45%, contra 55% registrado há dois anos. A queda no índice está relacionada justamente à ausência de segmentos que geram mais volumes, como grupos e eventos de empresas que levam funcionários e convidados. “Registramos menos volume, que foi compensado pelo valor médio das diárias. Por isso conseguimos chegar a um bom patamar de faturamento no resort”, afirmou Amaral.

A maior preocupação, segundo o executivo da companhia, está na retomada do turismo de negócios. Em São Paulo, a taxa de ocupação neste ano deve alcançar 40%, contra 72% de 2019 (são 217 quartos na capital paulista e 178 em Curitiba). A receita dos hotéis urbanos da rede Minor, somando o Mofarrej e o NH Curitiba, deve chegar a R$ 60 milhões em 2021, 33% menos do que foi registrado em 2019, quando registrou R$ 90 milhões. “O impacto negativo está na ausência de grupos que dormem no hotel e promovem eventos nas salas de convenções e em alguns contratos com empresas”, disse. Parte significativa da queda também está na receita do segmento de alimentação e bebidas, devido a redução de eventos sociais, como casamentos, e de restrição no horário de funcionamento dos restaurantes e bares dos hotéis. Mas Amaral começa a perceber uma discreta volta nos endereços urbanos. “As cotações retornaram em junho e julho, mas para eventos menores. E temos oito casamentos confirmados em dezembro”, disse o vice-presidente.

HORIZONTE Com a perspectiva da retomada, ainda que gradual, a companhia já enxerga outro caminho para ampliar a receita, que são os contratos de gestão, com a conversão de bandeiras de hotéis independentes. “Alguns proprietários entenderam que não é fácil navegar uma crise dessas com marca própria, sem sinergia e know how de um grupo maior”, afirmou Amaral. Hoje o grupo tem 20 propostas em análise, com potencial de assinar dois ou três contratos até o fim do ano. “A possibilidade é que sejam dois resorts e um hotel urbano.” Ele não revela os lugares, mas adianta que dois devem ser da bandeira Tivoli e um da Anantara, a marca premium do grupo Minor, o que seria o primeiro dessa rede na América Latina.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), Manoel Linhares, a recuperação total do segmento só deve acontecer em dois anos. “O setor está começando a se recuperar. A partir de setembro a procura deve aumentar, mas para recuperar o prejuízo será necessário esperar até 2023”, disse. “Vai ser gradual a recuperação.” No auge da pandemia, o setor chegou a registrar taxa de ocupação de 5%. O dirigente acredita que a média de 2020 tenha chegado a 20%. “O ponto de equilíbrio é de cerca de 60% de ocupação. Muito abaixo disso, é difícil sobreviver.”

Amaral prefere enxergar o copo meio cheio, mas sem tirar do horizonte o caminho que precisa ser percorrido para a retomada definitiva do turismo. “Temos incertezas, mas há boas notícias. Há otimismo, mas precisamos ser realistas. A grande incógnita é quando e como voltam os eventos corporativos.” Por enquanto, o roteiro continua sendo o sol e a água fresca da Bahia.