A cadeira de líder do governo da Catalunha está vazia desde outubro de 2017, quando o governo da Espanha interveio na região após o sim à independência. A posse do novo presidente catalão deveria ter acontecido em 30 de janeiro, mas foi adiada. O primeiro-ministro, Mariano Rajoy, pediu que os separatistas escolham um líder político que reconheça as leis espanholas. Mas esse grupo, que conseguiu maioria parlamentar nas eleições de dezembro, prepara a posse simbólica de Carles Puigdemont, o líder do movimento de formação da República Catalã. Ele, porém, tem ordem de prisão por rebelião decretada na Espanha e está foragido na Bélgica. “Posse só há uma e presidência só há uma: será de Puigdemont”, garantiu Eduard Pujol, do partido Juntos pela Catalunha.

Os separatistas catalães preparam uma manobra para empossar Puigdemont simbolicamente de Bruxelas. Ele escolheria um líder para administrar a Catalunha e daria supervisão a distância. Esse contorno ao bloqueio do governo central aumenta o cenário nebuloso na Espanha. “A posse simbólica do líder apenas postergaria o impasse político e social, gerando expectativas para a população local”, diz Zelia Schervier, doutora em política internacional da Universidade de Barcelona.

Esse impasse político provocou perdas importantes na Catalunha. Mais de 700 empresas deixaram a região desde o controverso referendo. Responsável por 19% do PIB espanhol, a região deixou de ser a sede dos bancos CaixaBank e Sabadell. Empresas listadas na bolsa de valores, como Gas Natural, Service Point e Agbar, também mudaram de endereço. Todos alegam que a instabilidade não combina com o mundo dos negócios. “A Catalunha só está se atrasando com a insistência em Puigdemont, e o maior prejudicado é a própria Catalunha”, diz Marcos Catão, especialista em direito tributário e analista da FGV. Com o governo vazio e sob o risco da manutenção do estado de intervenção, os catalães parecem estar na sombra e cada vez mais distantes da realidade da tão almejada independência.