Uma das atividades mais relevantes na pauta econômica do País, o agronegócio fechou 2020 com receita de R$ 2 trilhões, aumentando sua parcela no PIB de 20,5% para 26,6%. Difícil imaginar que atividade tão relevante mude ao bel prazer dos ventos. Literalmente. Na agropecuária, o clima é mandatório para os resultados e a única maneira de diminuir a exposição ao risco é via seguro rural. No Brasil, no entanto, barreiras culturais e técnicas ainda fazem com que apenas 20% da área agrícola sejam asseguradas, 13,7 milhões de hectares. A título de comparação, nos Estados Unidos a cobertura chega a 90%. A boa notícia é que ainda faltam 80% do campo nacional a serem cobertos. De olho nesse mercado, a MDS Brasil, multinacional de corretagem que possui uma carteira de prêmios emitidos de R$ 2 bilhões, anunciou a aquisição da Tovese, especializada na comercialização de apólices para áreas agrícolas no Rio Grande do Sul.

A transação permitirá à MDS aumentar sua relevância na região Sul, grande polo produtor de grãos, e assim expandir sua atuação no agro nacional. De acordo com o CEO da MDS Brasil, Ariel Couto, a empresa absorve R$ 120 milhões em prêmios sob gestão da Tovese neste ano. “O nosso objetivo é dobrar esse valor no horizonte de três a cinco anos, dependendo das safras”, afirmou. Dentre os seguros disponibilizados pela corretora estão o Agrícola, Animais, Florestal, Máquinas e Equipamentos, Pecuário, Penhor Rural, Propriedade Rural e Vida do Produtor. O seguro de grãos é o carro-chefe, com mais de 60% das 6,3 mil apólices da empresa no segmento agro sendo para a soja. O valor da compra não foi revelado.

CULTURA A operação acontece em um cenário macro promissor. Aumentar a área assegurada é uma das missões da ministra da Agricultura, Teresa Cristina. O empenho se vê em números. O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) aplicou R$ 880 milhões, o dobro de 2019, com previsão de mais de R$ 1 bilhão para 2021. O resultado foi o crescimento de 98% da área assegurada no ano passado para os 13,7 milhões de hectares. “Temos um caminho enorme a ser trilhado no Brasil”, disse Otávio Simch, diretor da Tovese.

Mesmo que as perspectivas sejam positivas, há obstáculos. “No Brasil, o seguro ainda é visto como custo e não investimento”, afirmou Henrique Neves, diretor do Sicoob, o maior sistema financeiro cooperativo do País. Os dados para o cálculo do seguro são outro entrave. Feito com base em estimativas de produção publicadas pelo IBGE, iguala fazendas vizinhas, sem contar as diferenças de tecnologias aplicadas. O tratamento é tido como injusto pelos produtores. Nada disso, porém, assusta o CEO da MDS Brasil. “Queremos suprir cada vez mais as necessidades do produtor, para que assim consigamos proteger sua atividade e lavoura”, disse Couto.