Há uma máxima em Portugal de que, para conhecer de fato a tradicional culinária portuguesa, os turistas brasileiros têm três principais opções: o restaurante Tia Alice, na cidade de Fátima; o Fialho, em Évora; e o Solar dos Presuntos, em Lisboa. Este último mudou bastante nos últimos quatro anos. Os pratos e o atendimento continuam os mesmos, ressalte-se. Ficou fechado durante boa parte da pandemia e reabriu em agosto de 2021 totalmente diferente. Mas quem passa em frente ao Solar dos Presuntos, no número 150 da estreita e charmosa Rua das Portas de Santo Antão, no centro da capital lusitana, não imagina a grandiosidade da reforma, já que a icônica fachada do ‘sítio’, como dizem os portugueses, não sofreu mudança.

Os 5 milhões de euros de investimento feito pela família Cardoso, dona do empreendimento, garantiram uma cozinha dez vezes maior do que a anterior — com 400 m² atualmente —, uma academia gastronômica, espaço para pequenos eventos privativos, quatro alojamentos para chefs convidados e uma respeitosa adega. Destaque para a esplanada. Com DJ e drinques para se degustar a céu aberto, é aposta para o atual verão europeu e nela foi feito um mural pelo artista Vhils. Na parede de 200m² foi estampado, com técnica de talhadeira sobre cimento, o rosto dos fundadores do icônico restaurante — Evaristo e Graça Cardoso, que abriram as portas do local em 1974, com apenas 24 lugares. “Fizemos um restaurante para o futuro, que vai continuar sempre um sucesso”, disse orgulhoso à DINHEIRO Pedro Cardoso, dono, administrador e filho dos fundadores. Hoje são 500 assentos para uma clientela que lota diariamente os amplos salões, ainda decorados com fotografias de visitantes, como o jogador de futebol Cristiano Ronaldo. Entre as figuras brasileiras se destacam Adriane Galisteu, Alcione, Diogo Nogueira, Felipão e Wagner Moura.

Para a ampliação, a família Cardoso comprou imóveis ao lado e teve de escavar boa parte do terreno ao fundo do restaurante. Durante os trabalhos, foram encontrados 28 esqueletos humanos e o de um cavalo, no que descobriu-se ser uma necrópole romana de mais de 2 mil anos. “Achamos também moedas de ouro, olarias… Isso atrasou a obra, que foi acompanhada pelo Centro de Arqueologia de Lisboa”, afirmou Pedro Cardoso.

No local das escavações foram construídas a adega, para abrigar milhares de garrafas de vinho — são vendidas 300 por dia — e seis tanques de lavagante, crustáceo que se assemelha à lagosta. Dele são consumidos 70 quilos por dia (com arroz, o prato preparado pelo chef Hugo Araújo custa 75 euros). Bacalhau e cabrito assado são dois outros carros-chefe do menu. O Solar dos Presuntos está renovado, com tradição mantida e história a seus pés.