Se fosse possível, a direção da Scania Latin America apagaria os anos de 1999, 2000 e 2001 de seu calendário. Neste período, a empresa perdeu a condição de líder do mercado brasileiro de caminhões pesados para a arqui-rival Volvo. Também viu seu balanço tingir-se de vermelho, acumulando perdas totais de US$ 180 milhões, dos quais US$ 62,5 milhões apenas no ano passado. O mais curioso é que a subsidiária da companhia sueca viveu seu inferno astral pouco depois de ter sido brindada com um ambicioso projeto de modernização, que representou investimentos de US$ 300 milhões na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). Esta fase ? cujos ingredientes são suficientes para compor um thriller de terror corporativo ? é coisa do passado, de acordo com Hans-Christer Holgersson, presidente da Scania Latin America. ?Nosso desempenho operacional foi positivo em R$ 4 milhões no trimestre julho-setembro e recuperamos a dianteira do mercado em outubro, abocanhando uma fatia de 28,4%?, festeja o executivo. Em sua primeira entrevista desde que assumiu o posto, em 1º de abril deste ano, Holgersson garantiu que os maus resultados jamais abalaram a fé da Scania no mercado latino-americano. ?Fincamos nossa bandeira na região em 1957 e nunca deixamos que os problemas conjunturais afetassem nossa aposta na região?, argumenta.

Holgersson desembarcou no País disposto a fazer mudanças radicais. Apesar da queda nas vendas, ele mandou reajustar a tabela de preços em 25%. ?Não estamos preocupados com a posição no ranking mas com a rentabilidade da operação?, justifica. Ao mesmo tempo, o executivo aproveitou a capacidade ociosa e a competitividade da fábrica paulista (a maior fora da Europa e onde 80% dos custos são em reais) para conquistar clientes na Europa, Ásia e Oriente Médio. Até outubro, já haviam sido enviados 800 caminhões Scania com o selo ?made in Brazil? para países como Alemanha, Espanha, França e Rússia. Outros 200 ônibus da marca estão rodando nas ruas de nações do Oriente Médio, Ásia e África. ?Os embarques já absorvem 20% de nossa produção de caminhões?, festeja o executivo. Para 2003, a expectativa é dobrar as exportações e concentrar os esforços no mercado da Coréia do Sul. ?Já temos diversos contratos assinados e os embarques deverão começar no início do ano?, conta o presidente da Scania.

As oscilações da economia brasileira não assustam esse executivo de 49 anos de idade que ingressou na companhia em 1985,
quando assumiu o posto de gerente de Planejamento Econômico
da filial brasileira. Ficou por aqui cinco anos. Tempo bastante
para ?sobreviver? a tablitas de conversão, controle de preços,
troca de moedas e três planos econômicos. ?Foi uma época na qual aprendemos bastante?, recorda. O conhecimento das idiossincrasias da economia brasileira aliado ao prestígio conquistado em sua meteórica carreira na companhia, fizeram com que o chefão
da Scania Leif Östling escolhesse Holgersson para a tarefa de
pilotar a divisão latino-americana. Até o momento, ele parece
estar dando conta do recado.