Margot Friedländer foi condecorada com o Prêmio Walther Rathenau por sua atuação na política externa alemã. Há mais de 10 anos, ela conta sua história em escolas para evitar que os horrores nazistas sejam esquecidos.A sobrevivente do Holocausto Margot Friedländer, de 100 anos, recebeu nesta segunda-feira (04/07) o Prêmio Walther Rathenau por sua notável atuação na política externa alemã.

Na cerimônia em Berlim, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, honrou a coragem de Friedländer, bem como sua dedicação em compartilhar sua história com os jovens e o compromisso de garantir que os horrores do Holocausto não sejam esquecidos.

Friedländer nasceu e foi criada em Berlim. Ela e sua família foram perseguidos pelos nazistas por serem judeus. Sua mãe e irmão foram assassinados no campo de concentração de Auschwitz. Seu pai também foi morto.

Ela se escondeu em Berlim por 15 meses, mas acabou sendo capturada pelos nazistas e enviada para o campo de concentração de Theresienstadt. Lá conheceu o marido – ambos sobreviveram.

Em 1946, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, o casal mudou-se para os Estados Unidos, onde viveu por décadas. Friedländer ficou viúva em 1997 e, em 2010, aos 88 anos, resolveu retornar a Berlim.

Na Alemanha, Friedländer começou a falar regularmente em escolas e organizações sobre a perseguição nazista e suas experiências durante o Holocausto.

“Não podemos mudar o que aconteceu, mas isso nunca deve acontecer novamente”, disse Friedländer nesta segunda-feira.

Friedländer já foi agraciada com vários prêmios e homenagens estatais. Retratos dela foram pintados, bustos foram lançados, e sua história tem sido contada em exposições, filmes, livros e até em história em quadrinhos. A Fundação Schwarzkopf, criada para capacitar jovens a se engajarem na política, fundou, em 2014, um prêmio anual em sua homenagem.

A jornada de Friedländer em Berlim foi registrada em uma trilogia de documentários feitos por Thomas Halaczinsky, um cineasta alemão que vive em Nova York. Friedländer também escreveu um livro de memórias, intitulado “Tente viver sua vida” (tradução livre).

Steinmeier: Antissemitismo não pode ser tolerado

Na cerimônia, Steinmeier elogiou a coragem de Friedländer – especialmente sua difícil decisão de retornar à Alemanha.

“Desde seu retorno, a senhora tem sido incansável em contar sua história de vida, em trabalhar pela democracia e pelos direitos humanos e na luta contra o ódio e todas as formas de antissemitismo e preconceito”, disse Steinmeier.

Ele condenou veementemente a violência e a discriminação antissemita na Alemanha, dizendo que se tornaram mais aparentes durante os protestos contra as restrições impostas para conter a disseminação da covid-19.

“Me enfurece o quão descaradamente o antissemitismo está mais uma vez levantando a cabeça em nosso país, nas ruas, nos pátios das escolas, na internet”, disse o presidente.

“Sim, uma democracia liberal precisa de debate, e precisa de disputa. Mas quando o ódio e a incitação ao ódio são semeados, ou mesmo quando a violência é usada, então uma linha foi cruzada. Não podemos e não vamos tolerar isso”, enfatizou Steinmeier.

O que é o Prêmio Walther Rathenau?

O Prêmio Walther Rathenau é concedido anualmente a uma figura pública por uma conquista vitalícia nas áreas de política externa.

O prêmio leva o nome do primeiro ministro das Relações Exteriores judeu da Alemanha, que foi assassinado em 1922 por agressores de extrema-direita apenas alguns meses depois de assumir o cargo. A Alemanha marcou o 100º aniversário do assassinato de Rathenau em junho.

Nos últimos anos, os vencedores do prêmio incluíram a ex-chanceler federal alemã Angela Merkel, o ex-primeiro-ministro polonês Donald Tusk e o ex-presidente israelense Shimon Peres.

le (AFP, dpa)