Na segunda-feira 10, a crise imobiliária americana finalmente bateu à porta dos grandes bancos internacionais, com a força de um terremoto que foi sentido nos dois lados do Atlântico. No suíço UBS, o maior banco europeu, divulgou- se um prejuízo de US$ 687 milhões no terceiro trimestre e ainda foram feitas provisões de US$ 3,4 bilhões para futuras perdas. No Citibank, líder nos Estados Unidos, o buraco com empréstimos hipotecários de segunda linha, conhecidos como subprime, foi ainda maior: US$ 5,9 bilhões. Em Zurique, onde fica a sede do UBS, foram anunciadas mudanças radicais ? e imediatas. O chairman Marcel Rohner, de 43 anos, demitiu o CEO do banco de investimentos, Huw Jenkins, e acumulou temporariamente os dois cargos. A tendência é que, dentro de alguns meses, ele seja substituído pelo brasileiro André Esteves. ?O UBS funciona sob o princípio de que a administração deve prestar contas aos acionistas?, disse Rohner. Ao mesmo tempo, em Nova York, o CEO do Citibank, Charles Prince, tem sido criticado por não ter tomado providências ? o que coloca seu próprio cargo em risco.Investidores têm comparado as duas situações e cobrado do Citi medidas idênticas às do UBS. O bombardeio foi tão intenso que o próprio príncipe saudida Alwaleed bin Talal, maior acionista do Citi, teve de vir a público para reiterar seu apoio a Charles Prince.

No UBS, rapidamente, virou-se a página. E as mudanças internas abriram uma

avenida de oportunidades para o jovem banqueiro brasileiro, de 38 anos, que há apenas dois meses se mudou para Londres, com a missão de chefiar a área global de renda fixa global do UBS. Com a saída de Huw Jenkins, chefe direto de André Esteves, o UBS também anunciou que à sua divisão de renda fixa serão incorporadas as operações com moedas e commodities do banco. Isso significa que Esteves, antes responsável pela gestão de US$ 900 bilhões em ativos, agora terá sob suas asas quase US$ 2 trilhões ? o que, se fosse um país, seria o sétimo PIB do mundo, à frente de nações como Itália, Brasil, Espanha e Coréia. Nunca um empresário brasileiro concentrou tanto poder nas mãos.

Curiosamente, foi Huw Jenkins quem, há pouco mais de um ano, decidiu pela compra do banco de investimentos Pactual pelo UBS, numa operação de US$ 3,1 bilhões. Em seguida, foi também Jenkins quem levou Esteves para a Europa, animado com os resultados do UBS Pactual no Brasil. Foi graças a essas operações que, neste ano, o banco suíço se consolidou como líder global em aberturas de capital, os chamados IPOs, que totalizaram US$ 19,7 bilhões ? sem o Brasil, o UBS ficaria atrás do Credit Suisse.Agora, com a saída de Jenkins, tudo indica que Esteves está sendo preparado para assumir o posto de CEO do banco de investimentos suíço. Primeiro, porque as principais áreas já estão sob seu comando. Segundo, porque o chairman Marcel Rohner anunciou que acumulará os cargos apenas temporariamente. Além disso, Esteves e Rohner, que são da mesma geração, tornaram-se amigos. ?Tudo dependerá dos resultados?, avalia um banqueiro próximo a Esteves.

Já em busca de reparar os estragos da crise hipotecária, o UBS decidiu demitir 1,5 mil funcionários ? o Brasil ficou de fora. A navalhada se soma a uma série de outros cortes, que já foram anunciados, como os 2,5 mil do Lehman Brothers, os 600 do Morgan Stanley e os 320 do Credit Suisse. Na quarta-feira 3, foi a vez do Deutsche Bank, que também anunciou prejuízos de US$ 3,1 bilhões com o mercado subprime. A grande expectativa, agora, diz respeito ao Citibank, onde a guilhotina pode chegar ao topo do banco.