Quarenta crianças estão entre as 51 pessoas mortas na última quinta-feira no norte do Iêmen, em um ataque aéreo atribuído à coalizão liderada pela Arábia Saudita, o qual provocou uma onda de críticas internacionais – aponta novo balanço da Cruz Vermelha divulgado nesta terça-feira (14).

Este balanço lembra o alto preço pago pelos civis em um conflito que já leva mais de três anos sem perspectiva de solução à vista.

A maioria dos mortos foi enterrada na segunda-feira, em cerimônia organizada pelos rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, em seu feudo de Saada, no norte do país.

Nessa cerimônia, milhares de iemenitas se manifestaram para expressar sua indignação contra Arábia Saudita e Estados Unidos. A multidão presente denunciou “um crime dos sauditas contra a infância iemenita”.

Os caixões foram levados para uma grande praça em Saada, a bordo de cerca de 50 veículos cobertos com bandeiras verdes. Também cobertos de verde e com os retratos das vítimas, os caixões foram colocados no chão para a cerimônia.

O presidente do “Comitê Revolucionário”, Mohamed Ali al-Huti, participou do enterro coletivo, onde denunciou “o crime da América e de seus aliados contra as crianças do Iêmen”.

Os menores, a maioria na faixa dos 15 anos, morreram na quinta-feira passada durante um bombardeio aéreo contra um ônibus que circulava em meio a um mercado muito frequentado em Dahyan, na província de Saada, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR). Era uma excursão escolar muito esperada pelos menores, contaram familiares das vítimas.

– Comoção –

A Cruz Vermelha divulgou hoje o novo balanço em um breve comunicado publicado por seu escritório em Sanaa.

O número de mortos chega a 51, entre eles 40 menores, e o de feridos, a 79, incluindo 56 menores, de acordo com o CICR.

Este balanço converge com o número informado pelos rebeldes huthis, que denunciaram um “massacre” cometido pela força aérea saudita contra menores no Iêmen.

Este ataque provocou comoção e apelos da ONU e de Washington, em especial, para que se abra uma investigação.

Na sexta-feira, a coalizão que luta no Iêmen contra os huthis anunciou a abertura de uma investigação, mencionando os “danos colaterais sofridos por um ônibus de passageiros” durante uma operação realizada por suas forças.

Já o Conselho de Segurança da ONU pediu uma investigação “confiável”, mas se absteve de exigir que fosse independente, como o fizeram, de maneira clara, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e a Holanda.

A coordenadora humanitária da ONU para o Iêmen, Lise Grande, havia denunciado um ato “horrível e totalmente inaceitável” e fez um apelo para que “se abra os olhos diante do que está acontecendo no Iêmen”.

A coalizão foi acusada, várias vezes, de cometer erros que custaram a vida de civis. Embora tenha admitido sua responsabilidade em alguns ataques, costuma acusar os huthis de se misturarem com os civis, ou de usá-los como escudo humano.

A guerra no Iêmen deixou mais de 10.000 mortos desde o início da intervenção da coalizão em março de 2015 e provocou a pior crise humanitária no mundo, segundo a ONU.

Os rebeldes são apoiados pelo Irã, mas Teerã nega fornecer apoio militar.