Acabou o leilão informal em torno do mais tradicional, elitista e arrogante banco de Wall Street. O JP Morgan não suportou o assédio de instituições de maior porte e foi vendido para o rival Chase Manhattan por um total em ações calculado entre US$ 31 bilhões e US$ 39 bilhões. O negócio criou um grupo financeiro de US$ 660 bilhões em ativos, o terceiro maior dos Estados Unidos, e deu ao Chase a oportunidade de ganhar um prestígio como banco de investimento que o mercado insistia em lhe negar. Para o JP Morgan, sinônimo de capitalismo americano até a primeira metade do século, é o fim de uma história de independência que já durava quase 150 anos. As duas instituições juntas terão poder também sobre os mercados emergentes: o JP Morgan foi o segundo maior em emissões de títulos na América Latina nos últimos dozes meses, e o Chase, o terceiro. No Brasil, a compra leva o Chase da décima-primeira para a nona posição entre os estrangeiros.

Como efeito colateral, a aquisição cria um banco capaz de virar de pernas para o ar os mercados de títulos da dívida de países emergentes. Chase e JP Morgan são primeiro e segundo maiores participantes desse mercado, que conta apenas com Salomon Smith Barney e Merrill Lynch como outras instituições importantes. Os brasileiros C-bonds, prato principal desse mercado, são os mais afetados, e por isso já tiveram queda de preço apenas com o anúncio da operação. A expectativa é de que o novíssimo JP Morgan Chase & Co. venda parte de sua carteira de bradies, para não ficar com um mico sem liquidez na mão. As emissões de títulos privados também correm o risco de ficar concentradas. Juntos, os dois lançaram US$ 5,145 bilhões em papéis em dozes meses, ou 22,31% do total lançado pelo País.

A venda é a segunda ruptura na história da House of Morgan, fundada pelo mitológico financista John Pierpont Morgan, o homem que bancou a industrialização americana e a expansão do país rumo ao Oeste. A casa já havia sido cindida em 1935, durante a Grande Depressão, quando a lei obrigou os grupos financeiros a separar bancos comerciais dos de investimento. O JP Morgan herdou as atividades de banco comercial e a clientela de primeira classe. A outra metade resultou no Morgan Stanley, inicialmente uma corretora. Por décadas acreditava-se em uma reunião das duas metades da House of Morgan, mas a fusão do Morgan Stanley com a corretora Dean Witter, em 1997, criou um dos maiores bancos de investimento do mundo e pôs fim aos sonhos de recomposição. O JP Morgan, diminuído diante dos novos conglomerados, passou a ser visto como presa. O Deutsche Bank esteve a um passo de comprá-lo, mas o Chase salvou o orgulho americano na última hora.