O Brasil vem se recuperando direitinho depois do empréstimo do FMI. O PIB de 1999, revisto pelo IBGE, até deu uma folga ao caixa do governo. Mas um estudo do Banco Mundial, intitulado ?Assegurando nosso futuro numa economia global?, mostra que um pouco de preocupação ainda cai bem. Coordenado pelo economista-chefe da instituição para a América Latina, Guillermo Perry, ele mostra que nosso canto do planeta ainda é um dos grandes pólos de volatilidade econômica. No quesito inconstância do PIB, ainda ganha de regiões como o Oriente Médio. Mas no que diz respeito a variações no poder aquisitivo da população, perde até da África.

?O trabalho tem uma notícia boa e outra ruim?, explica Perry, que analisou três décadas de números macroeconômicos. ?A boa é que a volatilidade está diminuindo. A má é que o continente permanece especialmente exposto em relação ao resto do mundo.? As razões são simples. As exportações da região ainda estão concentradas em commodities, naturalmente voláteis. E as taxas de poupança dos países são baixas. ?Todos dependem muito do fluxo de capital externo?, explica. O estudo conclui que a maior parte da volatilidade, nas décadas de 70 e 80, se deveu às políticas heterodoxas dos governos. Agora, a culpa é dos fluxos internacionais de capital. Dentro do continente, o Brasil não se sai especialmente bem. Comparadas as séries históricas de indicadores como PIB e renda das famílias, o País é sujeito a variações maiores que o México e parecidas com as da Argentina.

A principal conclusão é de que a América Latina ainda não aprendeu a se prevenir contra surpresas desagradáveis. Os sistemas financeiros do continente ainda não são rigidamente regulados quanto nas regiões desenvolvidas. ?Por isso, acabam funcionando como amplificadores de crises.? E os governos ainda têm um longo caminho até atingir a austeridade de seus primos ricos. ?Eles dizem que não produzem superávits porque têm de investir no social. Mas, quando o calo aperta, cortam justamente os investimentos nessa área ? no momento em que o povo mais precisa deles?, avalia.