Na tarde do último sábado, 19, a microempreendedora Julia Gomes, 18, combinou de almoçar com o tio Vitor Bedeti no shopping Pátio Savassi, localizado na zona centro-sul de Belo Horizonte. Enquanto aguardava a chegada dele, decidiu caminhar pelo local. O passeio foi interrompido quando um segurança do centro comercial a questionou sobre o que estava fazendo. “Eu fiquei com muito medo”, relembrou em entrevista ao Estadão. Julia afirmou ter sido abordada de maneira discriminatória. Constrangida, ela não conseguiu prestar denúncia naquele instante. Somente após contar para o tio, registrou boletim de ocorrência e prestou queixa no Ministério Público de Minas Gerais, além do Disque Direitos Humanos, através do número (100).

“Não consegui ligar para a polícia e nem tirar foto dele”, desabafa. Mas antes disso, ela foi acompanhada do tio até a chefe de segurança do shopping expor o episódio. “Eu era a única pessoa de pele preta”, relatou. Segundo a jovem, a funcionária se mostrou surpresa com a situação e pareceu estar “desorientada”. Essa conduta transpareceu para a microempreendedora que aquele poderia ser um caso isolado. No entanto, após o tio compartilhar a situação na internet, muitas pessoas relataram terem sido vítimas de discriminação no ambiente.

Na publicação, Vitor escreveu que a sobrinha se sentiu “assediada e humilhada, pois estava na frente de outras pessoas”. Ele ainda descreveu que encontrou Julia aos prantos na praça de alimentação do lugar. Indignado, disse que conversou com a chefe de segurança do local e detalhou que a mulher pediu desculpas. Mas não estava satisfeito com o “pedido de desculpas”, pois desejava “saber quais impactos a denúncia causa na mobilização necessária para que estes episódios de racismo não se repitam”.

Vitor ainda contou que após Julia ser abordada, ela realizou uma compra na tentativa de comprovar para os seguranças que era cliente do shopping.

Com a repercussão do caso, Julia resolveu criar nesta segunda-feira, 21, um grupo no WhatsApp voltado para quem sofreu no mesmo shopping situações semelhantes ao que ela vivenciou. “Só quem passa por isso sabe o tamanho da dor”. Até o momento, já são mais de 12 integrantes compartilhando episódios de discriminação. Entre os membros, há colaboradores do centro comercial que revelaram ser algo recorrente. “Eu estou fazendo isso não só pela Julia, mas por todas as pessoas que podem sofrer com isso futuramente”, destacou a jovem.

Para a microempreendedora, o mais importante agora é ter respostas do caso. Mesmo com todo o apoio que está recebendo nas redes sociais, ela destaca que ainda é doloroso falar sobre o que passou. “É uma dor que eu sinto que eu sempre vou carregar”, lamentou.

COM A PALAVRA, SHOPPING PÁTIO SAVASSI

“O shopping informa que está apurando os fatos e, desde já, reitera que não compactua, não tolera e repudia quaisquer atitudes discriminatórias. Imediatamente ao tomar conhecimento da situação relatada pela cliente, a equipe de atendimento prestou suporte a ela e buscou verificar o ocorrido. O colaborador de segurança que fez contato com a cliente afirmou que a abordou para lhe oferecer ajuda. Após seu relato, a equipe de atendimento tentou fazer contato novamente com a cliente, mas até o momento não obteve retorno. O shopping afirma que permanece aberto ao diálogo e à disposição das autoridades.”