O Botanique Hotel & SPA, localizado em Campos do Jordão, está inserido em uma área de 1,2 milhão de m2 de mata preservada na Serra da Mantiqueira. Ele foi criado pela empresária Fernanda Semler, em 2012, com o desejo de unir o luxo à natureza. Esse foi o primeiro passo para a concretização de um projeto mais ambicioso, que está saindo do papel neste momento: a construção de um bairro que integre o meio ambiente com a comunidade local. A partir de 2019, o Botanique Community será erguido em uma área de 80 mil m2 com investimentos que já somam R$ 30 milhões. Serão disponibilizados 42 lotes que poderão receber casas de 120 m2 a 300 m2. Cada lote deverá ter um preço médio de R$ 1,2 milhão. Isso porque a venda acontecerá via leilão reverso, em que o cliente faz a proposta e vence quem mais se aproximar do valor considerado ideal. Não pense que qualquer pessoa poderá participar do leilão. Só convidados por Fernanda poderão morar nesse espaço. “São pessoas que já se identificam com a nossa filosofia”, diz Fernanda. “Nossa proposta é a coabitação entre as diferentes classes sociais.”

Essa coexistência é uma troca que Fernanda e o marido, Ricardo Semler, controlador da Semco e conhecido pela revolução que fez na companhia ao adotar uma gestão participativa, fizeram desde que abandonaram o barulho da capital paulista pelo silêncio da Serra da Mantiqueira, em 2000. O casal mora em uma casa pousada em um terreno de um milhão de m2, área equivalente à do Parque Ibirapuera. Desde então, eles adquiriram três milhões de m2 de terra para seus projetos. A Vila dos Mellos, a comunidade de 700 moradores onde estão inseridos, foi impactada por essas ideias. No Botanique, os funcionários são todos moradores locais e os pequenos produtores são os principais fornecedores dos alimentos da cozinha do hotel. Além disso, os Semler construíram uma capela e revitalizaram algumas praças. Eles também levaram para a escola pública o modelo da Lumiar, um sistema educacional criado em 2003 por Ricardo, cuja metodologia de ensino, baseada na experiência, na vivência e em projetos, foi escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como uma das 12 escolas mais inovadoras do mundo.

Luxo simples: o Botanique Hotel & SPA, inaugurado em 2012, foi o pontapé inicial do projeto da empresária de levar diversidade social e econômica para o campo. O Botanique Community (foto acima) será um bairro de 80 mil m2, uma extensão do hotel, com jardins e hortas compartilhadas (Crédito:Divulgação)

Filha de pais fazendeiros, Fernanda sempre considerou um luxo viver em harmonia com a natureza. “A parte que eu mais gostava da casa era a horta, mas não entendia porque ela tinha que ficar atrás da casa”, diz ela, que colocou mais de 365 caixas de legumes e hortaliças na frente do hotel. No condomínio, cada grupo de quatros casas terá uma horta coletiva, além de parques e jardins. A ideia é que as construções sejam modulares, para provocar o mínimo impacto na natureza. A única exigência é que não sejam erguidos muros, como nos tradicionais condomínios urbanos. Como ficará nos arredores do hotel, os proprietários terão acesso a serviços, como o SPA e o restaurante, por uma mensalidade de R$ 3 mil. “É um empreendimento que vai ser bem segmentado porque esse comportamento, essa visão do luxo, ainda é rara no Brasil”, diz o economista Silvio Passarelli, especialista no mercado de luxo.

A inspiração de Fernanda é a cidade norueguesa de Alesund, de apenas 40 mil habitantes, que é considerada uma das mais inovadoras do mundo. Conhecida como a capital mundial do bacalhau, Älesund conseguiu desenvolver um sistema produtivo moderno ao integrar a ciência, a organização social e a economia. “Participei de um fórum de inovação lá e me encantei”, diz ela. “Todas as pessoas participavam, independentemente da classe social. Eles têm uma gestão muito democrática e participativa.” O que aprendeu na Noruega ela coloca em prática no hotel. Todas as decisões, por exemplo, são tomadas em conjunto com os funcionários. E nem sempre a dona tem a palavra final. “Já tive que fazer muitas concessões.”

Cinco anos depois de inaugurar o hotel, a empresária deseja um futuro menos turbulento para o seu bairro. Nesse período, brigas e desentendimentos fizeram 15 sócios desistirem do hotel. Atualmente, além de Fernanda, que é a principal acionista, restaram Gordon Roddick, fundador da The Body Shop e da rede de hotéis inglesa Du Vin e David C. Cole, um dos fundadores da AOL. O empreendimento de R$ 41 milhões já foi premiado por quatro instituições internacionais de hotelaria. Com o reconhecimento, Fernanda está confiante que sua Älesund brasileira logo vire um modelo para o resto do País.