Após 20 anos de sua primeira visita ao Brasil, o CEO e fundador do serviço de streaming de vídeo Netflix, Reed Hastings, fez questão de ir ao D.O.M., em São Paulo, na segunda-feira, 6. Ele queria conhecer o aclamado restaurante do brasileiro Alex Atala, um dos personagens retratados na segunda temporada da série Chef´s Table, produzida pela Netflix, que conta a história de cozinheiros redor do mundo. “Ele me disse que o seriado mudou sua vida”, contou Hastings, em um encontro com a imprensa um dia depois.

TALENTO NACIONAL: a atriz Alice Braga, da produtora Losbragas, vai produzir “Samantha”, nova série da Netflix
TALENTO NACIONAL: a atriz Alice Braga, da produtora Losbragas, vai produzir “Samantha”, nova série da Netflix (Crédito:Gabriel Chiarastelli)

Isso porque, segundo o relato do empresário, o trabalho de Atala ganhou ainda mais projeção no exterior com esse programa. “A Netflix se tornou em um grande símbolo de criar conteúdo e espalhar para o mundo todo”, afirmou o empreendedor. Hastings, no entanto, não estava no Brasil só para provar as iguarias da culinária brasileira de Atala. Ele esteve por aqui porque a estratégia de crescimento da companhia passa pelo mercado brasileiro. “O Brasil é um foguete”, afirmou Hastings. “Vamos investir mais no País e na América Latina.”

Estima-se que a Netflix tenha seis milhões de assinantes no País, de acordo com o blog Notícias da TV, do jornalista Daniel Castro. Os números foram calculados a partir de logins na internet, tráfego de dados e pesquisas de mercado por uma empresa que não quis divulgar seu nome. Com uma mensalidade média de R$ 22,90, sua receita estaria na casa dos R$ 1,3 bilhão, o que seria 30% superior ao do SBT, emissora do Sílvio Santos, e só atrás da Rede Globo. A Netflix não confirma os dados.

CÂMERA E AÇÃO: o diretor José Padilha, após participar de “Narcos”, filma uma série sobre a Operação Lava Jato
CÂMERA E AÇÃO: o diretor José Padilha, após participar de “Narcos”, filma uma série sobre a Operação Lava Jato (Crédito:Columbia Pictures/MGM)

A caminhada para ganhar o mercado brasileiro não foi simples. Quando estreou no País, há seis anos, a empresa enfrentou dificuldades. “Eles enviaram uma equipe para investigar o que estava acontecendo”, diz Edney Souza, professor da Pós-Graduação de Comunicação Digital da ESPM. Liderada pelo executivo Todd Yellin, o grupo desembarcou em São Paulo e constatou que a baixa adesão ao serviço era um reflexo da precariedade da web. A direção da empresa, na Califórnia, determinou que o grupo fizesse de tudo para conseguir resolver essa questão.

“Eles instalaram servidores no País e fizeram parcerias com empresas de telefonia”, diz Souza. O que aprendeu por aqui foi essencial para a Netflix se lançar na sua maior ofensiva global. Em janeiro de 2016, ela lançou o seu serviço em 130 países. Hoje, está em 190 países, contando com 93,8 milhões de assinantes. Em 2013, a empresa tomou a decisão de produzir conteúdo próprio, ficando mais independente de acordos de licenciamento com estúdios e tevês dos EUA. O sucesso de House of Cards, que conta a história de um político inescrupuloso, abriu as portas para outras produções.

DISTOPIA: a série “3%” foi a primeira produção brasileira original da Netflix, que terá uma segunda temporada
DISTOPIA: a série “3%” foi a primeira produção brasileira original da Netflix, que terá uma segunda temporada (Crédito:Pedro Saad/Netflix)

A maioria delas ainda é filmada nos EUA, onde se tornou a maior produtora de séries. No ano passado, foram 43 títulos. Mas, cada vez mais, a Netflix busca parcerias locais, como a que aconteceu com a série Narcos, sobre o traficante Pablo Escobar, que alcançou sucesso global. Ela é protagonizada pelo ator baiano Wagner Moura e dirigida por José Padilha, o mesmo do filme “Tropa de Elite”. “Atores americanos, brasileiros, colombianos e uma história latina”, diz Souza. “Essa salada para agradar a todos ajudou a Netflix.” Narcos se transformou em um sucesso global e levou a companhia a ganhar mercado no Brasil.

Na semana passada, a Netflix mostrou que vai reforçar sua estratégia de produção de séries no País. Hastings anunciou Samantha, a segunda série original brasileira, que começa a ser gravada neste ano pela produtora Losbragas, de propriedade da atriz Alice Braga. A série contará a história de uma atriz mirim que, aos 20 anos, tenta recuperar a fama ao lado do marido, um ex-jogador de futebol, que passou dez anos na prisão. “Essa série vai levar a cultura brasileira para o mundo”, disse Hastings.

A primeira produção brasileira foi 3%, da Boutique Filmes. O CEO da Netflix confirmou que ela terá uma segunda temporada. Além disso, Padilha segue filmando uma série inspirada na Operação Lava Jato. Mas nem só de séries originais vive a Netflix. O serviço negocia com o Simba, grupo formado pelo SBT, Record e RedeTV para o licenciamento da produção dessas emissoras. Hastings ainda diz que pode até produzir novelas. Seria um confronto com a Globo, sinalizando que as próximas temporadas da Netflix devem ser ainda mais emocionantes.

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