Alguns dos impactos das queimadas que consumiram mais de 4 milhões de hectares do Pantanal neste ano podem só vir a ser conhecidos em dois ou três anos, o que torna a luta pela preservação da biodiversidade ainda mais desafiadora. Dentre os casos mais críticos, está o da arara-azul. A espécie, que há 20 anos esteve na lista de animais ameaçados de extinção, viu sua população pular de 1,5 mil indivíduos em 1999 para 5 mil no bioma pantaneiro em 2019, graças ao trabalho do Instituto Arara-Azul. Agora, porém, o retrocesso é iminente, com o risco de voltar para a lista na próxima contagem. “Essas aves são bastante vulneráveis, por serem muito especialistas: só se alimentam de sementes de duas árvores, a acuri e a bocaiúva, além de concentrarem 90% dos seus ninhos na árvore do manduvi”, explica Neiva Guedes, presidente do Instituto.

Como o fogo destruiu boa parte do seu hábitat, além da morte imediata de alguns animais, a alimentação ficou escassa, as poucas árvores-ninho que sobraram passaram a ser também disputadas por outras espécies e a predação de ovos, filhotes e mesmo de animais adultos aumentou. “Com a falta de comida, a ave e seus ninhos viraram fontes de alimentos para espécies que não são seus predadores naturais, mas que com a fome estão atacando”, disse Thais Guedes, coordenadora de Projetos na Fundação Toyota do Brasil, marca que apoia o programa desde o fim da década de 1990. O esforço de trabalho agora é aumentar o número de ninhos artificiais espalhados no ambiente e tentar mitigar a falta de comida para que as aves consigam sobreviver a este período crítico.

Fabio X

(Nota publicada na edição 1199 da Revista Dinheiro)