Existe uma expressão popular na Ligúria, em dialeto genovês, que se aplica à perfeição ao modus operandi da Simpress: “Dovve i Zeneixi vàn, ’n’atra Zena fan” (algo como “Onde os genoveses vão, outra Gênova farão”). Na Simpress, tudo está em constante movimento. Assim como há uma onipresente cultura pelo novo e pelo fazer. Isso ajuda a explicar por que uma empresa de apenas 18 anos, completados neste mês, traz tamanha maturidade corporativa. “Sempre, desde o começo, fomos uma startup”, diz o genovês Vittorio Danesi, seu presidente e fundador. “Startup pensada para gerar valor aos clientes.”

Apesar de ser palavra quase inescapável do universo tecnológico — uma busca pelo Google mostra que há pelo menos 445 milhões de páginas na web com o termo startup —, na Simpress ela traz mais significados que o senso comum contempla. No primeiro ano completo de atuação, o de 2002, a empresa fechou dezembro com 126 colaboradores e receita de R$ 46 milhões. Hoje são 1,6 mil funcionários, 1,2 mil clientes e um faturamento que, em 2017, passou do meio bilhão de reais. “Manter o espírito de startup significa ser uma organização jovem, flexível, agressiva e atenta a todas as mudanças”, diz.

Essas quatro características estão na essência da última transformação. Ou “pivotagem”, como prefere Danesi. A empresa decidiu, na segunda metade do ano passado, encontrar novo posicionamento e explorar outras verticais de negócios, mesmo liderando seu segmento desde que nasceu. “Deixamos de ser apenas outsourcing de impressão para ter soluções mais abrangentes.” Sob a assinatura SaaS (“Simpress as a Solution”), a companhia passou a oferecer o modelo de terceirização de impressão também para notebook, pc, smartphone e tablet. “Estamos num momento de mercado em que não apenas a pessoa física, mas também a jurídica, quer mobilidade e não imobilizar algo”. Vale para um patinete na porta do metrô ou para pedir carro na saída do restaurante.

A Simpress percebeu, por exemplo, que não havia por parte de operadoras de telefonia uma solução para empresas que dependem fortemente do uso de celulares. Bingo. Lançou um pacote que contempla desde a reposição de um aparelho em 24h até seu seguro. Respostas semelhantes são feitas com a linha de tablets, pcs e notebooks. “O crescimento está sendo exponencial”, afirma. A vertical vai responder neste ano por 10% do faturamento. Em 2020, o percentual deve bater nos 20%. Essa capacidade de se reinventar e estar pronta para o novo a partir da observação do ambiente é a maior obsessão dentro da empresa. Foi graças a ela que a Simpress nasceu — e cresceu. Na virada do milênio, Danesi notou que profissionais de TI ganhavam novo escopo. Deixavam de ser pessoas responsáveis apenas pelos sistemas, infraestrutura e suporte e passaram a atuar mais voltados à gestão e ao cliente. Foi a partir daí que ele decidiu desenhar uma solução de outsourcing de impressão.

Na época era comum que companhias de todos os tamanhos tivessem inúmeras impressoras, todas sem controle e demandando atendimento ineficiente e custoso. Ele vislumbrou a oportunidade quando apareceu a primeira geração de impressoras multifuncionais e viu que os fabricantes não deram a devida importância à evolução tecnológica. Tanto que as nomearam como copiadoras digitais. “Vimos que elas reuniam características extremamente valiosas para gerar valor para as TI, e ao novo perfil de gestor”, afirma. Mas se usassem a expressão copiadora digital’ ou ‘impressora digital’ parariam na área de compras ou facilities. “Queríamos conversar com TI e passamos a nomear a novidade como ‘sistemas de impressão’.” Bastou para a Simpress conquistar a senha para navegar no mar da TI.

DA SAMSUNG À HP A alma e a flexibilidade de startups também foram fundamentais no processo de adaptação da cultura da companhia na aquisição pela Samsung. As negociações começaram em 2014 e a empresa entrou 2015 como subsidiária da gigante coreana. Menos de dois anos depois a divisão de impressão foi vendida pela Samsung à HP. O processo precisou passar pelas agências regulatórias de todos os países em que as duas empresas atuam e foi finalmente concluído em 2017. As experiências, complexas, parecem não ter deixado traumas. Danesi sempre orientou seu estilo de navegar corporativamente olhando os ambientes e cenários, os ventos, as mudanças de comportamento e os hábitos. Conduz seu barco para chegar a um porto e dali construir. Não poderia ser diferente para um genovês.