Nos últimos cinco anos, Mark Hurd, 53 anos, foi incensado pelos analistas de Wall Street e até pelos concorrentes do setor de tecnologia da informação (TI). Afinal, foi sob seu comando que a Hewlett-Packard (HP) saiu da letargia para uma posição de destaque nessa área. Hoje, a HP é a maior vendedora de PCs do mundo. Passou a compatriota IBM em receita e em nível global e, na área de TI, só perde para a sul-coreana Samsung. Ele conseguiu isso graças a um ousado plano de aquisições, que inclui companhias como 3COM, Palm e EDS. 
 

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Sem final feliz: ex-estrela de filmes eróticos, Jodie acusou Hurd de assédio sexual.

A denúncia foi o estopim para a queda do executivo 

 

Com elas, a HP engordou o lucro dos acionistas. Na sexta-feira 6, Hurd deixou o cobiçado posto de presidente-executivo da maior fabricante de PCs do planeta. Pediu demissão em razão do desgaste causado pelo escândalo sexual envolvendo uma funcionária terceirizada, a atriz Jodie Fisher, 50 anos, que estrelou filmes eróticos na década de 1990. 

 

Hurd deixa o cargo com o prestígio abalado, mas com a conta bancária engordada em cerca de US$ 40 milhões. O valor inclui a verba rescisória de US$ 12 milhões mais o pacote de ações da companhia e outros benefícios. Ao menos serve de consolo para quem jura, de pés juntos, que jamais teve relações amorosas com a moça. 

 

A posição de Hurd ficou insustentável após a descoberta de que o executivo falsificou informações de gastos pessoais no valor de US$ 20 mil. O montante teria sido gasto com a amante. O desfecho do caso caiu como uma bomba sobre Wall Street. As ações da HP caíram 10% no dia do anúncio da saída do dirigente. 

 

Um movimento diametralmente oposto ao verificado nos bons tempos da gestão Hurd. Desde que ele substituiu Carly Fiorina, em 2005, a cotação dos papéis da empresa dobrou de valor.  

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A queda de Hurd engrossa a já farta literatura de estragos causados por escândalos sexuais no mundo corporativo. Os casos se sucedem (leia destaques acima) e têm enredos muito semelhantes. Em geral, um alto executivo acaba “embriagado” pelo poder conferido pelo cargo, além do sucesso financeiro. “Muitas pessoas não conseguem discernir onde acaba a vida pessoal e começa a profissional”, opina Adriana Gomes, mestre em psicologia e coordenadora da área de pessoas do curso de pós-graduação da ESPM-SP. “Cada vez mais fica evidente que as empresas precisam construir códigos de conduta e uma etiqueta corporativa”, completa ela.  

 

Foi graças, exatamente, ao código de conduta da HP que Hurd caiu em desgraça. A acusação de assédio sexual foi feita em junho e desencadeou uma investigação interna que trouxe à tona a falsificação na prestação de contas de despesas no valor de US$ 20 mil. 

 

Jodie, que trabalhou na companhia entre 2007 e 2009, sempre acompanhava os dirigentes da HP em viagens pelo país. Em inúmeras ocasiões ela dividiu a mesa de sofisticados restaurantes com Hurd. 

 

Mas o nome que aparecia na prestação de contas era do segurança do presidente da HP. Jodie pode não ter ido para a cama com Hurd, mas, certamente, não foi por falta de convites.  

 

Ao ser informada sobre a queda do ex-todo-poderoso da HP, ela lamentou: “Fiquei surpresa e entristecida ao saber que ele (Mark Hurd) perdeu o emprego em virtude do episódio”, disse durante entrevista. Agora é tarde. Pelo menos para Hurd, que ainda não anunciou qual será seu próximo passo.