Do lado de fora, o Roxy, um dos cinemas mais antigos do Rio de Janeiro, mantém o mesmo clima de 65 anos atrás: pés direitos altos, detalhes em mármore e dezenas de cartazes de Charles Chaplin compondo o ambiente. A revolução está prometida para o lado de dentro: som digital, telas gigantes de alta definição e salas em formato de arquibancada. Nem mesmo o tradicional cinema de Copacabana, que fez a história da família Severiano Ribeiro, hoje dona de 185 salas no País, vai escapar de um banho de modernização. A tacada é uma resposta do grupo brasileiro ao avanço dos gigantes americanos Cinemark e UCI, que dominaram principalmente os cinemas de shopping centers. A demarcação de território já começou. O clã dos Severiano Ribeiro escolheu a cidade de Campinas para o projeto que deu início à série: um conjunto com 15 salas, sendo uma com tecnologia THX, sistema digital criado pelo cineasta americano George Lucas. O complexo custou R$ 15 milhões e já é o terceiro maior em público do País. ?Isso é só o começo?, garante Luís Severiano Ribeiro, presidente do grupo.

A programação para o próximo ano segue no mesmo ritmo. Inclui a estréia de 25 salas em São Paulo, Vitória e Fortaleza, que vão consumir investimentos de R$ 30 milhões. A maior parte do dinheiro veio do próprio caixa do grupo, mas Severiano Ribeiro não se importa de recorrer ao inimigo, quando necessário. Explica-se: as 12 salas de cinema que serão inauguradas em Fortaleza, no próximo ano, têm a americana UCI como parceira. ?Se o negócio for bom para os dois lados, por que não fazê-lo??, diz o executivo. As parcerias são bem-vindas, mas quando o assunto é abertura de capital, as portas estão fechadas. A empresa brasileira não quer saber de sócios ou investidores participando da diretoria. ?Estamos crescendo, não vejo motivo para mudarmos o time?, diz Francisco Pinto, primo de Luís Severiano e diretor de expansão do grupo. No ano passado, o faturamento foi de R$ 95 milhões, com 16,2 mil expectadores ? número 6% superior a 2000. Lançamentos como o filme Homem-Aranha ajudam a atrair as pessoas ao cinema, mas esse público tem estado cada vez mais exigente com relação à qualidade e conforto. ?Sabemos disso. Até mesmo o Roxy, nosso cinema mais tradicional, vai duplicar de tamanho?, conta Ribeiro.

 

Além de toda a parafernália tecnológica que tem tornado os cinemas cada vez mais modernos, o grupo afirma ter uma grande carta na manga: as salas de rua. Eles não têm grandes estacionamentos, muito menos redes de fast-food. ?Mas têm charme, tradição. Fazemos questão de manter o público que valoriza isso?, diz Ribeiro. Ele representa a quarta geração da família e leva o mesmo nome de seu tataravô, que deixou sua livraria, em 1917, para montar uma sala de cinema, no Ceará. Cinco anos depois, o velho Severiano mudou-se para o Rio de Janeiro e, desde então, não tem feito outra coisa senão administrar cinemas. ?Vamos sempre deixando as turbulências para trás?, diz Ribeiro. Uma delas foi em 1958, quando o cinema São Luiz, no Rio de Janeiro, foi completamente destruído por dentro. Motivo: o lançamento do filme Rock Around the Clock. Ao som de Bill Halley, a platéia foi ao delírio e acabou arrancando as cadeiras. Mas o pior momento foi a crise no setor, que varreu do mapa brasileiro milhares de salas de cinema: das 5 mil que existiam no início dos anos 80, sobraram 1.600. Hoje, Severiano Ribeiro tem 20% do mercado nacional e presença em todos os Estados. ?Fomos procurando nosso canto e parece que encontramos?, diz Ribeiro.