O ano de 2021 registrou algumas das maiores inflações deste século. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou 10,06%. É o mais parecido com uma inflação “oficial”, uma vez que serve para as metas de inflação do Banco Central (BC). Outros índices também mostraram a alta dos preços. O IGP-M, que corrige aluguéis e algumas tarifas públicas, avançou 17,78%.

E 2022 começou no mesmo ritmo. Primeiro índice a ser divulgado referente ao ano corrente, o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) subiu 1,79% em janeiro, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) na segunda-feira (17). No mês anterior, o índice caíra 0,14%. Com esse resultado, o índice acumula alta de 17,82% em 12 meses. Segundo a FGV, “as acelerações observadas nos preços do minério de ferro (de -19,28% para 24,56%) e da soja (de -3,41% para 2,92%), itens de maior peso no índice ao produtor, orientaram o avanço da taxa do IPCA, índice com maior influência sobre o IGP-10.”

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Isso indica que os preços seguem em uma trajetória de correção acelerada e prometendo um comportamento pouco previsível. Por que isso está ocorrendo? A principal causa é o cenário internacional adverso, algo que é amplificado pelos problemas domésticos.

Explicando. Boa parte da economia brasileira depende da produção e exportação de commodities agrícolas e minerais, como soja e minério de ferro. Os preços desses produtos são regulados pelo mercado internacional. A situação corrente é de liquidez elevada e juros muito baixos nas principais economias, apesar de os Estados Unidos já terem sinalizado o início de uma correção.

Além disso, há uma incerteza renovada com o impacto da variante Ômicron do coronavírus, que vem se espalhando rapidamente e poderá obrigar o retorno das medidas de restrição, com um impacto pesado e, pior, imprevisível sobre a atividade econômica global.

Essa é a situação global, com reflexos específicos sobre a economia brasileira. Por aqui, além da variação dos preços das commodities também há a influência dos preços do petróleo. Esse produto não está na pauta de exportações brasileiras, mas ele baliza os preços dos combustíveis no mercado interno e é um componente importante da inflação.

Tudo isso faz com que os preços das commodities oscilem muito, o que pressiona os índices de preços. Em especial os da “família” IGP, como o IGP-M, o IGP-DI e o IGP-10. Para comparar, uma avaliação do economista Roberto Troster mostra que, nos últimos 25 anos, o IPCA registrou uma inflação acumulada de 348,9%, ao passo que o IGP-M aumentou 714,4%, mais do que o dobro.

Segundo Troster, o problema é ainda mais grave, pois a inflação tem sido imprevisível. “Nos últimos 25 anos, o desvio padrão, que é uma medida de volatilidade, do IGP-M foi de 0,89, enquanto a do INPC foi de 0,44 e a do IPCA 0,39”, afirmou Troster.

Isso deve continuar. Não há sinais de um aumento significativo na produção do petróleo, o que promete manter as cotações elevadas. O mesmo vale para as demais commodities. E, para piorar, este será um ano eleitoral, com a solidez das contas públicas sob ameaça, que aumenta o risco para o investidor. O reflexo imediato é uma alta nas cotações do dólar, o que manterá os índices pressionados.

Ou seja, a melhor estratégia para seu dinheiro em 2022 é uma que contemple proteção contra alta dos preços e também contra a apreciação do dólar em relação ao real.