Os escritórios de trabalho compartilhado – no inglês, coworkings – voltaram a crescer no Brasil, superando as dúvidas sobre o fôlego do setor depois de dois anos de trabalho remoto em meio a pandemia de covid-19.

Com espaços vazios da noite para o dia, algumas empresas tiveram de cortar na carne nos primeiros meses da quarentena. Um estudo da Newmark, consutoria especializada no setor imobiliário, mostra que esse corte chegou, na média, a 16% dos espaços no caso de quem precisou fechar áreas de escritórios. O faturamento no período desabou, na média, em 75%.

A boa notícia é que esses espaços já foram retomados, e a perspectiva é de mais crescimento. Agora, o impulso para a recuperação vem das companhias que passaram a retomar o trabalho presencial, mas buscaram, desta vez, modelos mais flexíveis para seus funcionários.

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A mesma Newmark indica que, só no ano passado, os escritórios de coworking já somavam 1,6 mil unidades no País, com grande concentração no Estado de São Paulo (663). A menor disponibilidade de lugares atualmente é no Itaim, bairro onde fica a Avenida Faria Lima, coração do centro financeiro do País. O índice de espaço vago na região está hoje em apenas 2,8%.

Na média na cidade de São Paulo, a vacância (taxa de espaços vagos) é de 23,8%, conforme dados de abril, pouco maior do que os 21,9% observados em março.

Mesmo após forte expansão de negócios, o marketplace Inventa resolveu usar o espaço de um coworking, na região da Avenida Paulista, em vez de ter sede própria. Segundo Ana Furtado, responsável pela área de recursos humanos da companhia, a decisão foi ancorada na flexibilidade oferecido por esse tipo de local.

“A localização também foi importante. E, se precisarmos de mais espaço, podemos reservar ainda o andar de baixo ou de cima, temos essa possibilidade de aumentar o espaço.”

Grandes empresas disputam espaços

Se antes da pandemia os espaços de coworking eram essencialmente utilizados por empresas de menor porte, a mudança para um modelo de trabalho mais flexível tem alterado o perfil dos interessados em usar escritórios compartilhados. Agora, esses espaços também já são disputados por grandes corporações.

“O caminho do compartilhamento de espaços, com menos custos fixos e flexibilidade de o empregado não precisar estar fisicamente todos os dias no local de trabalho, está em ascensão e tem sido uma alternativa atrativa no modelo de trabalho atual”, explica a diretora de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Newmark, Mariana Hanania.

A Petrobras está entre as empresas que fizeram esse movimento. A estatal reduziu o espaço de sua sede no Rio de Janeiro e passou a fazer licitações para alugar coworkings para comportar seus funcionários. “As empresas não querem mais investir em imobilizado”, acrescenta Mariana.

Na IWG no Brasil, que é dona das marcas de coworking Regus e Space, os números já refletem esse fenômeno. Antes da crise sanitária, as grandes empresas representavam 40% dos clientes, parcela que agora saltou para 65%. “O trabalho híbrido virou o novo normal. Temos oito mil clientes, e 90% deles voltaram no modelo híbrido”, diz o presidente do grupo no Brasil, Tiago Alves.

Segundo o executivo, na pandemia muitas empresas, assim como a Petrobras, reduziram seus escritórios e decidiram espalhar seus locais de trabalho, com o apoio dos coworkings. A ideia dessas empresas, de acordo com Alves, é dar opções para seus funcionários trabalharem mais perto de casa. A IWG possui hoje no País 66 espaços e planeja fechar 2022 com 100, o que marcará o melhor ano da empresa no Brasil.

Na WeWork, que possui 32 espaços no Brasil, a taxa de ocupação já atingiu 80%, maior do que em mercados como Canadá, França e Suécia, e segunda maior ocupação na América Latina. “Seguimos animados com as possibilidades para 2022, e otimistas com a expectativa de que o crescimento acelere nos próximos meses”, diz o presidente da empresa no Brasil, Felipe Rizzo.

Na pandemia, a WeWork se viu obrigada a fechar espaços, mas o executivo diz que, sob o impulso da tendência do modelo de trabalho flexível, a empresa superou os seus números pré-pandemia, atingiu o seu maior número de clientes desde sua chegada no Brasil e está, há 18 meses seguidos, com o balanço de vendas líquidas positivo no Brasil.

Uma das empresas que migraram seu escritório para a WeWork foi a Valid, que produz 80% das CNHs. Ocupa área na região da Avenida Paulista. “Ao todo, são 175 postos de trabalho revezados entre os cerca de 400 funcionários da empresa na capital paulista”, comenta Rizzo.

Customizado

Na GoWork, a demanda por parte das grandes empresas está crescente e movimentando um nicho de negócio da companhia batizado de “build to go”, na qual um prédio é customizado para o cliente. Não há, nesse formato, espaço de trabalho compartilhado com outras companhias e todo o restante dos serviços é fornecido exatamente como um coworking tradicional. Dentre os exemplos, estão o escritório de advocacia LBCA e o da companhia de seguros de saúde Qualicorp. “Trata-se de um contrato modular, com mais dinamismo do que a locação tradicional. Antes da pandemia, empresas mais tradicionais tinham reticências ao coworking”, comenta o presidente da GoWork, Fernando Bottura.

“Tivemos um momento no início da pandemia em que se colocou em xeque o modelo do negócio, mas hoje o trabalho híbrido é um caminho sem volta”, comenta o executivo. A GoWork, que possui 8,4 mil estações de trabalho, projeta dobrar de tamanho neste ano. No momento, três prédios estão em fase de implementação para novos escritórios.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.