Vendas de caminhões crescem em ritmo acelerado (Crédito:Sergio Castro/Estadão)

Na indústria de caminhões, há uma receita clássica de bolo que define claramente que o PIB é o fermento capaz de aumentar as vendas do setor. PIB significa Produto Interno Bruto, o principal termômetro do crescimento econômico. Portanto, os executivos dizem que quanto maior for o PIB, mais intensa será a comercialização de caminhões. Se isso é verdade, por que, então, as vendas estão crescendo 48,6% neste ano, num contexto de expansão modesta da economia, entre 1% e 1,5%?

Para desvendar o “milagre”, conversei nesta terça-feira 6 com dois executivos do setor, em evento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em São Paulo. Luiz Carlos Gomes de Moraes e Marco Antonio Saltini são vice-presidentes da Anfavea e trabalham, respectivamente, na Mercedes-Benz e na MAN. Ambos destacam que o percentual expressivo de crescimento decorre, principalmente, de uma base muito fraca. De janeiro a julho de 2017, foram vendidas apenas 26 mil unidades. Neste ano, no mesmo período, foram 38,6 mil, o que explica a alta de 48,6%.

Para termos uma ideia melhor dos números, vamos ver os resultados anuais. No ano passado, o setor comercializou 52 mil unidades – um terço do pico registrado em 2013 (confira quadro abaixo). Se forem vendidas 66 mil neste ano, conforme a previsão da Anfavea, a alta será de 27%. É bem menos do que os 48,6% acumulados até agora, mas continua sendo um índice bem expressivo diante de um Pibinho. Então, o que mais explica o bom desempenho além da base fraca?

Os dois executivos salientam que o segmento de pesados, que é o mais volumoso, tem sido justamente o que vem apresentando o melhor desempenho, com alta de 87,3% em relação ao acumulado de janeiro a julho de 2017. A explicação tem nome e sobrenome: agronegócio pujante. Para escoar as safras recordes, no primeiro semestre, os agricultores recorrem aos caminhões. Afinal de contas, as ferrovias, infelizmente, estão sucateadas. No segundo semestre, época de plantio, a demanda por caminhões pesados já não será tão grande. Como os demais segmentos de semileves, leves, médios e semipesados dependem muito do PIB, eles não vão conseguir sustentar essa expansão, embora a oferta de crédito do BNDES e dos bancos comerciais esteja fluindo bem.

Sendo assim, o ano de 2018 marca uma boa recuperação de um setor que sofreu absurdamente com a crise. Fica no ar a pergunta de um trilhão de dólares. Qual é o verdadeiro potencial do mercado de caminhões novos, ao ano, no Brasil? É o pico de 155 mil registrado em 2013? Ou o fundo do poço de 51 mil em 2016? Executivos mais otimistas dizem que é de 120 mil. Os mais realistas falam em 100 mil. Tendo em vista que o Brasil não vai crescer num ritmo chinês de 7% nos próximos anos, eu, particularmente, fico com a estimativa mais conservadora, de 100 mil.

Venda anual de caminhões (em unidades)
2018: 66 mil (estimativa da Anfavea)
2017: 52 mil
2016: 51 mil
2015: 72 mil
2014: 137 mil
2013: 155 mil
Fonte: Anfavea