Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A indústria de biodiesel do Brasil avalia que poderia atender prontamente um eventual aumento de dois pontos percentuais na mistura no diesel, para 12% (B12), estimando como consequência redução de quase 7% nas importações do combustível fóssil, diante de um cenário com riscos de escassez decorrentes da guerra na Ucrânia.

A capacidade de produção de biodiesel é suficiente para atender misturas acima de B15, mas o Brasil está na entressafra da soja, e neste momento a disponibilidade da principal matéria-prima do setor seria suficiente “para atender o aumento imediato da mistura de biodiesel no diesel comercial para B12”, disse a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

“Para isso, podem ser utilizados estoques de soja para promover um esmagamento superior a 48 milhões de toneladas de soja, bem como destinar parte do estoque final e das exportações de óleo para uso interno”, disse o economista-chefe da Abiove, Daniel Furlan Amaral, ao ser questionado pela Reuters.

O Brasil tem exportado grandes volumes de óleo de soja, com boas margens de esmagamento favorecendo a fabricação do produto que responde por mais de 70% da matéria-prima do biodiesel. O processamento da oleaginosa em 2022 está estimado, até o momento, em recorde de 48 milhões de toneladas, também com forte demanda por farelo de soja pela indústria de carnes.

Com um B12, a Abiove estima que as importações de diesel pelo país poderiam recuar 6,7% no segundo semestre, ou 660 milhões de litros.

As importações do combustível mais vendido no país poderiam perder força após uma disparada no início do ano, quando saltaram quase 25% no primeiro quadrimestre, também por conta da menor mistura do biocombustível determinada pelo governo devido aos maiores custos com o produto renovável.

Contudo, uma menor importação de diesel e maior uso de biodiesel poderia elevar os custos dos consumidores, na avaliação do analista de petróleo e derivados da consultoria StoneX, Pedro Shinzato.

“O cobertor está curto, se aumenta mistura, sobe o preço. O biodiesel é mais caro que diesel fóssil, ou se reduz mistura precisa importar mais diesel fóssil… não tem solução fácil”, disse ele, notando que o biocombustível (sem impostos) é negociado a 7,37 reais o litro (base ANP), enquanto o produto da Petrobras (também sem taxas) é vendido a 4,93 reais/litro.

Mas a Abiove ponderou que o diesel brasileiro está abaixo da paridade de importação, o que abre oportunidade ao biodiesel.

“Considerando que há um indicativo de que as refinarias brasileiras estão trabalhando próximas do seu limite e que o diesel mineral nacional está abaixo da paridade de importação, o setor entende que o aumento da mistura do biodiesel tende a substituir o diesel mineral importado”, destacou Amaral, da Abiove.

A associação de produtores de biodiesel Aprobio também defendeu a adoção e a viabilidade do B12, no contexto de aumento dos preços internacionais do diesel e da defasagem do valor no país, do aumento da necessidade da importação e da potencial crise de abastecimento do produto no cenário de conflito na Europa e maior demanda no segundo semestre.

“Nosso setor de biodiesel já manifestou ao governo federal, se este entender necessário, que tem condições de atender ao mercado com uma mistura de 12% (B12)”, disse o presidente do Conselho de Administração da Aprobio, Francisco Turra, em nota.

Segundo ele, a ampliação para 12% pode representar uma redução da necessidade de importação de diesel no curto prazo ou aumento da cobertura do abastecimento de diesel pelo suprimento local. Nos meses seguintes, acrescentou ele, poderia ser possível a retomada da mistura prevista para vigorar em 2022, o B14.

Não há informações concretas sobre a retomada da mistura maior, mas outros grupos de lobby estão se movimentando nesta direção junto ao governo. Na quarta-feira, a Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio) debate soluções para a segurança energética, com foco no maior uso do biocombustível para evitar uma eventual crise de abastecimento, conforme o tema do evento.

O analista da StoneX disse não ver risco imediato no abastecimento. “Até agosto, não me preocupo muito”, afirmou ele, ressaltando que o período mais delicado é de setembro a novembro, com a temporada de furações nos EUA podendo afetar o refino e atrasar operações de importante fornecedor brasileiro.

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