Mal superados os efeitos da crise de saúde, e em meio à escassez de equipamentos eletrônicos, o setor automotivo se reúne no salão alemão da mobilidade IAA, diante de novos desafios, enquanto a variante delta ameaça a recuperação.

Para os fabricantes, privados de grandes eventos internacionais devido à pandemia, este salão profissional aberto nesta segunda-feira (6) em Munique será uma grande oportunidade de reencontrar o público, que será recebido a partir de terça (7).

O salão será mais elétrico do que nunca, já que a Comissão Europeia está pressionando pelo fim dos motores de combustão até 2035.

Vendas de carros novos no Reino Unido em agosto têm pior desempenho desde 2013

Vários fabricantes, portanto, tomaram uma rota elétrica radical, mas cara.

A feira IAA dedica, assim, grande parte aos modelos com baterias elétricas. A Volkswagen, segunda maior fabricante do mundo e maior grupo representado no salão – na ausência da Toyota – não expõe nenhum carro térmico.

A Renault apresentou nesta segunda seu modelo elétrico Mégane, um esportivo compacto e conectado, que deve impulsionar o grupo francês no mercado europeu, segundo seu CEO, Luca De Meo. “Queremos mostrar com este carro que dirigir um carro elétrico também pode ser divertido”, declarou.

Por sua vez, a Mercedes promete 660 km de autonomia para seu grande sedã EQE, destinado a rivalizar com o Tesla.

BMW anuncia, olhando para o futuro, um carro elétrico batizado de “Circle” e 100% reciclável, feito inteiramente com materiais reaproveitados ou recursos renováveis.

– “Mobilidade” e clima –

Em plena transição para os chamados motores de “emissão zero”, o IAA não será mais apenas sobre carros, mas se descreve como um “salão da mobilidade” e tem como foco a proteção climática.

Por isso, serão realizadas conferências e testes de direção de todos os tipos de veículos, desde scooters até limusines (elétricas), e mais de 70 marcas de bicicletas também serão apresentadas para tentar atrair novos públicos.

Apesar de tudo, vários grupos de ativistas do clima, incluindo o Greenpeace, prometeram ações de protesto durante o evento. Esta feira é o típico “greenwashing” (preocupação ambiental insincera), condenou um representante da associação ambiental BUND, Jens Hilgenberg.

Por outro lado, o grande desafio da eletrificação é agravado pela falta de componentes eletrônicos.

O ano começou de forma positiva para os industriais do setor, que recuperaram os lucros após um complicado ano de 2020 devido à covid-19, que causou fechamentos de fábricas e perdas financeiras históricas.

Os 16 maiores grupos do mundo alcançaram um total de 71,5 bilhões de euros (US $ 85 bilhões) de lucro operacional no primeiro semestre de 2021, segundo análise do gabinete EY.

Mas o horizonte parece mais complicado agora: a escassez de componentes eletrônicos – consequência da recuperação da economia e da alta demanda por aparelhos eletrônicos – cria desordem nas cadeias produtivas e sobrecarrega o mercado.

Isso levou ao fechamento ou suspensão de fábricas ou linhas de produção de grandes fabricantes.

Como resultado, os preços de venda de veículos novos subiram 13,9% em agosto nos Estados Unidos, um aumento recorde, de acordo com analistas do JPMorgan.

“As montadoras poderiam vender […] mais veículos se não houvesse a crise dos semicondutores”, estimou o analista alemão Ferdinand Dudenhöffer.

O impacto nos lucros poderia ser sentido no início de 2022, já que as vendas ainda estão longe dos níveis anteriores à crise.

Por fim, o salão IAA, um evento bianual, é um dos principais encontros internacionais do setor que tenta ressurgir após uma decepcionante edição de 2019 em Frankfurt, a histórica cidade-sede, que colocou em dúvida sua própria existência.