A polícia birmanesa abriu fogo na terça-feira à noite (16)contra uma multidão de nacionalistas budistas, matando sete manifestantes, em uma região sob tensão, cenário de violência contra os muçulmanos rohingyas.

“As forças de segurança pediram que a multidão se dispersasse e efetuou tiros de advertência para o céu com balas de borracha, mas em vão. Então, a polícia disparou balas reais para alertar e dispersar as pessoas”, explicou o porta-voz da polícia birmanesa, Myo Soe, à AFP.

“Sete pessoas morreram, e 13 foram feridas em Mrauk U”, acrescentou, indicando que 20 policiais ficaram gravemente feridos após serem atingidos com pedras.

Na manhã desta quarta-feira, a cidade estava calma, e a polícia, nas ruas.

Um hospital da cidade vizinha de Sittwe confirmou que seis feridos seguiam internados nesta quarta de manhã.

“Cinco deles têm ferimentos de bala, e o sexto parece ter sido espancado”, declarou à AFP o médico Kash Maung Than, do hospital de Sittwe.

O estopim da revolta da multidão foi a proibição de uma manifestação por parte dos nacionalistas, que queriam comemorar o antigo reino budista de Rakhine.

Apesar da proibição, milhares de pessoas se reuniram, exigindo “soberania para o Estado de Rakhine”, antes de tentarem invadir um prédio oficial.

“Foi um crime. Gostaríamos de saber quem deu a ordem de atirar”, disse à AFP Hla Saw, deputado da região de Mrauk U.

– Violência intercomunitária –

Antiga capital desse reino, Mrauk U está localizada no estado de Rakhine, no oeste de Mianmar, epicentro da crise dos rohingyas desde agosto passado, quando começou uma campanha de repressão do Exército birmanês. A medida forçou 650 mil membros da minoria muçulmana a fugirem para Bangladesh.

As Nações Unidas e várias ONG consideram que que o Exército tem conduzido uma “limpeza étnica”.

Uma das mais miseráveis ​​do país, com uma taxa de pobreza de 78%, a região está mergulhada no ódio entre as comunidades budista e muçulmana.

Horas antes da manifestação, Mianmar e Bangladesh assinaram um acordo para repatriar os rohingyas que fugiram do país.

Pressionado por uma comunidade internacional alarmada com as condições de vida dos rohingyas, o governo birmanês prometeu repatriar os refugiados que puderem provar que viviam anteriormente em Mianmar.

Este retorno já se anuncia como muito complicado, porém. Muitos vilarejos rohingyas foram queimados, e ONGs e refugiados acusam as milícias budistas de terem participado de estupros, assassinatos e torturas cometidos pelo Exército birmanês contra os muçulmanos.

A violência no estado de Rakhine foi deflagrada pelos ataques a postos policiais por parte do Exército de Salvação dos Rohingyas de Arakan (ARSA), que denuncia os maus-tratos a essa minoria.

O estado de Rakhine também é cenário de outros conflitos, como a luta entre o grupo rebelde budista Arakan Army e o Exército birmanês, que se intensificou recentemente.

De acordo com a analista independente Gabrielle Aron, essa violência pode ser o início de uma nova erupção de confrontos intercomunitários.

“Mrauk U é uma das áreas, em que as tensões intercomunitárias têm sido fortes desde agosto”, explicou.

“Tudo dependerá agora de como as forças de segurança reagem a esse incidente”, completou.