Com 70 satélites, maior empresa de comunicação via satélite do mundo e única a operar em duas das principais órbitas, a SES tem programados lançamentos de outros 12 equipamentos ao espaço nos próximos três anos. O primeiro deles será o SES17, projetado ao espaço no dia 22 de outubro, da Guiana Francesa. Será posicionado nas Américas, Caribe e Oceano Atlântico. Consequentemente, servirá a novos negócios no Brasil. Outro investimento da empresa fundada em 1985, em Luxemburgo, voltado diretamente ao País é uma nova estação de acesso em terra, igual à existente hoje em Hortolândia (SP), para distribuir sinal para o território nacional – o local ainda não foi definido.

Todos esses projetos que colocam a SES na órbita do Brasil são coordenados pelo britânico-brasileiro Ruy Pinto, CTO (Chief Technology Officer) global da companhia desde janeiro de 2019. “O Brasil é um país que tem desafios próprios, com mercado fértil para telecomunicações via satélite”, afirmou o executivo nascido no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, e que está há 26 anos morando na Europa. “É imenso, cheio de recursos naturais, comunidades em áreas afastadas que não estão completamente conectadas. A comunicação via satélite tem vantagem inerente.”

O satélite SES 17 ficará na órbita geoestacionária, a 36 mil quilômetros de distância da Terra, onde estão 50 equipamentos da empresa. Os outros 11 – da nova geração de sistema digital O3b mPower – serão lançados até 2024 e permanecerão na órbita média, a 8 mil quilômetros de altura. Quanto mais longe, menos satélites são necessários para a cobertura do planeta. No caso da geoestacionária, são necessários três. Porém, a qualidade do serviço é menor. Os investimentos em satélites digitais e em faixas mais próximas do globo visam a interoperação e oferta de conexão de TV e internet mais rápidas e eficientes. O desafio é colocar os serviços de telecomunicações via satélite o mais próximo possível da fibra óptica. “A implementação da fibra é mais cara e demora mais. O satélite ganha em escala e atinge áreas maiores, mais rápido. Nosso desafio é oferecer maior potência e menor latência”, disse Ruy Pinto, ao ressaltar que um dos projetos importantes realizados no Brasil recentemente foi em parceria com a Tim para levar conexão de internet para 110 escolas do País durante a pandemia. “Tem o aspecto comercial, mas esse tipo de ação torna nosso trabalho fascinante.”.

Uma questão delicada do Brasil é o 5G. Ruy avalia a quinta geração de internet como positiva e que o tráfego via satélite vai complementá-la. Porém, o 5G vai usar a faixa entre 3.625 MHz e 3.700 MHz, hoje ocupadas por operadoras de satélites. Para desocupar o espaço, as empresas querem compensação financeira do governo. Nos Estados Unidos houve acordo. Aqui, os debates estão em curso.

Marie De Decker

“A implementação da fibra é mais cara e demora mais. O satélite ganha em escala e atinge áreas maiores, é mais rápido.”  Ruy Pinto CTO daq SES.

DADOS A SES investiu 2,3 bilhões de euros nesses sistemas de conectividade por satélite de nova geração. O aumento da capacidade e da qualidade visa atender ao aumento da demanda que vinha ocorrendo até ser decretada pandemia, em março de 2020. Apesar de queda no faturamento da empresa no ano passado, os projetos foram mantidos. Em 2020, a receita fechou em 1,8 bilhão de euros, 3% menor do que 2019. E no primeiro semestre deste ano os contratos atingiram 875 milhões de euros, 7,7% a menos ante o que mesmo período anterior.

Resultados afetados pela queda drástica de voos e navegações pelo mundo – situações em que obviamente a fibra óptica não atende –, já que grandes clientes da empresa são companhias aéreas e quatro dos seis maiores navios de cruzeiro do mundo. Do total, 60% da receita é oriunda de linha de negócios de vídeo, com distribuição de 8.650 canais de TV para 361 milhões de casas em todo o mundo – 1 bilhão de pessoas beneficiadas. Os dados (internet) são responsáveis por 40% do faturamento, com crescimento ano a ano. “A melhor conectividade faz nossos clientes tentarem inovar e descobrir possibilidades”, disse o CTO. Para, da órbita, impactar a vida das pessoas na Terra.