Diante das ameaças representadas pela Rússia, Irã, China e o terrorismo, os serviços secretos devem colaborar com o setor de tecnologia para serem mais eficazes, declarou nesta terça-feira (30) o diretor da inteligência externa britânica MI6.

Em uma intervenção pública incomum, no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, Richard Moore explicou como os avanços tecnológicos transformaram a espionagem.

E enfatizou que “a adaptação a um mundo afetado pela ascensão da China é a principal prioridade do MI6”.

“Os agentes de inteligência chineses procuram explorar a natureza aberta de nossa sociedade, em particular usando plataformas de mídia social para facilitar suas operações”, comentou.

Em uma entrevista à BBC antes de seu discurso, Moore explicou que as capacidades de inteligência artificial da China permitem “coletar dados de todo o mundo”.

O país “também tenta usar sua influência por meio de suas políticas econômicas para tentar, e às vezes conseguir, prender as pessoas em suas redes”, disse. Pequim usa essas “armadilhas de dados e dívidas” para influenciar países e pessoas, acrescentou.

Após as acusações dos Estados Unidos de espionagem contra a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei, o governo britânico decidiu em julho de 2020 excluir a gigante chinesa de sua rede móvel 5G, citando um risco para a segurança do país.

O chefe do MI6, único membro do órgão cujo nome é público, também descreveu a ação da Rússia como uma “grave ameaça”, citando a presença militar russa na fronteira com a Ucrânia.

“Estamos preocupados com o acúmulo de tropas e as intenções do presidente (Vladimir) Putin”, reconheceu. “Temos que ser muito vigilantes e prudentes e deixar claro aos russos o preço que pagariam se intervissem, como fizeram em 2014”, acrescentou ele, referindo-se à invasão da Crimeia ucraniana por Moscou.

– Associação com a comunidade tecnológica –

O terceiro país mencionado por Moore foi o Irã, sobre o qual disse esperar uma solução diplomática para a questão nuclear, uma fonte de grande tensão.

Esses três países, junto com o terrorismo internacional, são as quatro prioridades dos serviços de inteligência britânicos, que estão tentando se adaptar a um ambiente em mudança no qual não podem lutar sozinhos contra os avanços tecnológicos.

“Nossos adversários estão investindo dinheiro e ambição em inteligência artificial, computação quântica e biologia sintética porque sabem que dominar essas tecnologias lhes dará uma vantagem”, disse o homem que assumiu a liderança do MI6 em outubro de 2020.

“Um serviço de inteligência tem que estar na vanguarda do que é tecnologicamente possível. (…) A novidade é que agora buscamos parcerias com a comunidade tecnológica para ajudar a desenvolver tecnologias de primeira linha que resolvam os problemas mais importantes de nossas missões”, explicou.

Mas “ao contrário de Q nos filmes de Bond, não podemos mais fazer tudo internamente”, considerou, referindo-se ao gênio tecnológico nas histórias do agente fictício 007.

O diretor do MI6 também alertou que as ameaças criminosas, terroristas e de Estados hostis estão “aumentando exponencialmente”.

“Segundo algumas estimativas, nos próximos 10 anos poderemos ver mais avanços tecnológicos do que no século passado, com um impacto em termos de disrupção igual ao da revolução industrial”, afirmou.