Pontífice crítica apoio de setores da Igreja a leis que criminalizam pessoas LGBTQ e afirma que os homossexuais devem ser acolhidos e respeitados, e não marginalizados ou discriminados.O papa Francisco afirmou que as leis que criminalizam a homossexualidade são injustas e que “ser homossexual não é um crime […], mas é um pecado”.

Em entrevista à agência de notícias Associated Press, divulgada nesta quarta-feira (26/01), Francisco criticou alguns bispos da Igreja Católica em algumas partes do mundo que apoiam leis que criminalizam a homossexualidade ou discriminam a comunidade LGBTQ.

O pontífice observou que os bispos católicos precisam de passar por um processo de mudança para reconhecer a dignidade de todos e agir com “ternura, como Deus tem para cada um de nós”.

Ele disse que, no que diz respeito à homossexualidade, é necessário haver uma distinção entre um crime e um pecado.

“Ser homossexual não é crime”, afirmou. “Não é um crime. Sim, mas é um pecado”, observou, ressaltando a importância de se distinguir entre as duas coisas. “É também um pecado faltar com a caridade ao próximo.”

Tabu em dezenas de países

Em torno de 67 países ou regiões em todo o mundo criminalizam a atividade sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo. Entre estes, 11 preveem a aplicação da pena de morte, segundo a Human Dignity Trust, uma ONG com sede no Reino Unido que trabalha para abolir essas legislações.

Os especialistas dizem que, mesmo quando as leis não são aplicadas, elas contribuem para o assédio, estigmatização e violência contra pessoas LGBTQ.

O papa qualificou essas leis como injustas e disse que a Igreja Católica pode e deve trabalhar para que elas sejam eliminadas. “[A Igreja] deve fazer isso. Tem de fazer”, ressaltou. Francisco disse que os homossexuais devem ser acolhidos e respeitados, e não marginalizados ou discriminados.

“Somos todos filhos de Deus, e Deus nos ama como somos e pela força que cada um de nós luta por nossa dignidade”, disse Francisco, na entrevista realizada no Vaticano.

Em 2019, muitos esperavam que o papa declarasse sua oposição à criminalização da homossexualidade durante um encontro com grupos de direitos humanos que conduziram pesquisas sobre os efeitos das leis discriminatórias e das chamadas “terapias de conversão”.

Francisco, no entanto, acabou por não se reunindo com esses grupos, que acabaram sendo recebido pelo 'número dois' do Vaticano, que defendeu “a dignidade de cada pessoa humana contra toda a forma de violência”.

Aproximação com grupos LGBTQ

A doutrina católica, ao mesmo tempo em que defende que os LGBTQ devem ser tratados com respeito, sustenta que os atos homossexuais são fruto de uma perturbação. Francisco não mudou essa doutrina, ainda assim, seu papado é marcado por uma aproximação entre a Igreja e essa fatia da sociedade.

Em 2013, ao ser questionado sobre a suposta homossexualidade de um padre, ele respondeu: “quem sou eu para julgar?”. Quando era arcebispo de Buenos Aires, apoiou a concessão de proteção legal a casais do mesmo sexo, uma alternativa à defesa do casamento homossexual, que a doutrina católica proíbe.

O papa, no entanto, foi criticado pela comunidade católica LGBTQ após um decreto de 2021 do gabinete de doutrina do Vaticano, segundo o qual, a igreja não deve abençoar uniões homossexuais “porque Deus não pode abençoar o pecado”.

Em 2008, o Vaticano em 2008 se recusou a assinar uma declaração da ONU que pedia a descriminalização da homossexualidade, alegando que o texto iria além do âmbito original e incluía também linguagem sobre “orientação sexual” e “identidade de género”, que considerava problemática.

rc (AP, Lusa)