Em novembro de 2016, quando foi anunciada a venda da Liquigás para a Ultragaz, os benefícios eram bem claros para as suas controladoras. De um lado, a Petrobras engordaria o caixa com R$ 2,8 bilhões, como parte de um plano de desinvestimentos para reequilibrar as suas contas. Na outra ponta, o Grupo Ultra ampliaria a sua dianteira no mercado de gás de cozinha (GLP), no qual já detinha uma fatia de 23%. Essa equação, no entanto, se desfez na quarta-feira passada, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vetou o negócio, por cinco votos a dois, sob a alegação de que não haveria contrapartidas suficientes para evitar a concentração de mercado. Em algumas localidades do País, a nova operação teria uma participação superior a 60%.

A busca continua: Liquigás é um dos ativos do desinvestimento da Petrobras. Estatal busca compradores (Crédito:Divulgação)

Para o Grupo Ultra, esse é o segundo revés no Cade, em apenas sete meses. No início de agosto de 2017, a Ipiranga, outra empresa do grupo, já tinha visto sua proposta de R$ 2,17 bilhões para a compra da rede de postos de combustíveis Alesat ser barrada pelo órgão regulador da concorrência. A companhia informou, por meio de nota, que buscou apresentar um pacote de soluções que atendessem a todas as questões concorrenciais da aquisição da Liquigás. E ressaltou a proposta de se desfazer de 45% do volume de gás produzido por esse ativo. “Com esse remédio, a reprovação foi surpreendente”, diz uma fonte do setor. “Mas a grande derrotada, de fato, nesse processo, é a Petrobras. As próximas ofertas pela Liquigás devem ficar abaixo da metade do que a Ultra ofereceu.”

Em comunicado, a Petrobras informou que a Liquigás segue em seu programa de desinvestimentos e que irá analisar imediatamente alternativas para se desfazer do ativo. Há algumas possibilidades no caminho da estatal. Para as fontes ouvidas pela DINHEIRO, a saída mais rápida é reabrir a negociação com as companhias que também se mostraram interessadas na Liquigás quando o ativo foi colocado à venda. A relação inclui nomes como Supergasbrás, Nacional Gás e Copagaz.

“Se a Petrobras quiser, o jogo reinicia”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Ele ressalta que um modelo viável seria a associação entre fundos de investimento e empresas com menos de 10% de participação no setor, o que ajudaria a reduzir os riscos de veto do Cade. “A Petrobras também poderia analisar a abertura de capital da Liquigás, com a venda do controle da operação”, afirma Pires. Essa é uma opção que parece estar na mesa da Petrobras. Segundo reportagem publicada na sexta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo, a estatal já se definiu por uma oferta pública inicial de ações da Liquigás. Procurada pela DINHEIRO, a Petrobras, no entanto, não confirmou a informação.