Convencidos de que a crise política vai piorar, senadores de vários partidos começaram a discutir um plano de ação para os próximos meses e decidiram tocar uma agenda própria, à revelia do presidente Jair Bolsonaro, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.

Em almoço realizado nesta quarta-feira, 22, na residência oficial do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), líderes de bancadas avaliaram que o governo está “sem rumo” e, ainda, que Bolsonaro corre o risco de não terminar o mandato, se continuar apostando no confronto. O assunto parlamentarismo foi citado na conversa.

A notícia do encontro reservado chegou rápido ao Palácio do Planalto e foi recebida com preocupação. Auxiliares do presidente argumentaram que a simples menção do parlamentarismo cheirava “a golpe” e viram uma articulação de bastidores para enfraquecê-lo.

O senador José Serra (PSDB-SP) disse na casa de Alcolumbre que está revisando a proposta de emenda constitucional instituindo o parlamentarismo no Brasil, a partir de 2022 – no fim do governo Bolsonaro -, e deve protocolar o texto em duas semanas. Seus colegas, porém, não quiseram esticar o assunto.

O jornal apurou que vários senadores, entre eles Esperidião Amin (PP-SC), Jaques Wagner (PT-BA) e Kátia Abreu (PDT-TO), afirmaram que falar em parlamentarismo, neste momento, seria um “tiro no pé”. Motivo: poderia parecer que o Congresso está tramando a derrubada de Bolsonaro. A portas fechadas, o diagnóstico ali foi o de que o presidente quer jogar a população contra o Congresso, incentivando manifestações de rua em defesa de seu mandato, como as previstas para domingo. Em 1993, um plebiscito rejeitou o parlamentarismo no Brasil, mas em todas as turbulências políticas o tema volta à tona.

“Não me lembro de ter falado isso no almoço, mas o que eu digo é que comentar uma proposta assim agora, mesmo que seja para o futuro, é tão inútil quanto corrosivo”, disse Amin. “Sou parlamentarista, mas estamos iniciando um governo com dificuldades próprias. Você acha que é interessante debater mudanças de sistema de governo? É inútil, porque não produzirá nenhum efeito agora, e corrosivo, porque a interpretação é de golpe. Não tem meio-termo.”

A iniciativa de discutir saídas para a crise partiu de Alcolumbre e do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Apesar das inúmeras queixas sobre o governo, no entanto, ninguém tem pronta uma receita para enfrentar o “tsunami”. O termo, usado recentemente por Bolsonaro, também foi citado no encontro, que reuniu 14 dos 81 senadores. Um deles chegou a dizer que o presidente pode acabar virando uma “rainha da Inglaterra”, que reina, mas não governa.

Na tentativa de recuperar protagonismo e não ficar a reboque da Câmara, o Senado vai investir em temas econômicos. A ideia é formular a pauta da “concertação”, que tenha como foco a geração de emprego e o crescimento. Tanto na Câmara como no Senado há uma percepção generalizada de que tudo o que não der certo no governo será debitado por Bolsonaro na conta do Legislativo. O problema é que, após quase cinco meses de mandato, o presidente ainda não conseguiu formar uma base de sustentação no Congresso além das fronteiras do PSL, o seu partido. Até agora, por exemplo, ele enfrenta resistências para aprovar a reforma da Previdência, considerada essencial pela equipe econômica para o ajuste das contas públicas.

Lista

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não participou do almoço, mas também está apreensivo com os movimentos de Bolsonaro. Na lista dos interlocutores de Maia estão, além de políticos e empresários, ministros do Supremo Tribunal Federal. Em reunião da cúpula do DEM nesta quarta-feira, Maia foi aconselhado a não entrar no “jogo de provocações” do Planalto e a investir em uma pauta própria.

Bolsonaro deu várias cotoveladas no Congresso, nos últimos dias, e foi aconselhado a amenizar as críticas. A uma plateia de empresários, no Rio, ele chegou a dizer que “o grande problema do Brasil é a classe política”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.