sempre1.jpg

 

Em uma das últimas reuniões do Conselho de Administração da Suframa, a Superintendência da Zona Franca de Manaus, um movimento chamou a atenção dos participantes. Numa tacada só, as fabricantes de eletrônicos Cineral, CCE e Olevia Senna solicitaram permissão ao órgão para iniciar a produção de televisores de LCD (cristal líquido) na região. O grupo Positivo deve seguir o mesmo caminho em breve. Sem o aval da autarquia, eles não teriam os incentivos fiscais da Zona Franca. Do dia para a noite, o número de marcas disponíveis nas gôndolas vai quase duplicar. Até então, exploravam esse segmento as estrangeiras Panasonic, Philips, LG, Samsung e Sony, além da brasileira Semp Toshiba. Varejistas e indústrias acreditam que, nesse período de vacas gordas, há espaço para mais gente. Até novembro de 2007, 730 mil unidades de LCD foram produzidas, com preço médio (no varejo) de R$ 2,3 mil, o que gerou um faturamento de R$ 1,7 bilhão no período, informa a Suframa. O montante é quase a metade do total embolsado pela indústria de TV com tubo de imagem ? algo como R$ 3,7 bilhões no mesmo intervalo. No ano passado, a produção desse televisor tradicional ultrapassou dez milhões de unidades. São esses aparelhos que, nos próximos anos, serão substituídos pelo LCD. Ou seja, há um mercado de milhões de aparelhos para ser conquistado. Por isso, há tanta gente interessada.

De olho nesse potencial, e sem fazer barulho, a CCE planeja iniciar a fabricação no País até abril, apurou a DINHEIRO. No momento, ela só importa pequenos lotes. A companhia evita dar detalhes sobre o projeto, mas confirma a iniciativa. ?Eles não querem dar um passo maior que a perna. Vão tentar um produto mais moderno e com preço de mercado?, diz um fabricante que teve acesso aos planos da marca. A cautela faz sentido. O custo de produção de uma TV de LCD varia pouco de uma marca para outra. Os componentes vêm da Ásia e têm valor tabelado pelos fornecedores. O desafio das novatas é trabalhar com preços agressivos, principal arma dessas marcas, sem abrir mão da gorda margem que incide sobre esses produtos. O modelo 32 polegadas da CCE, por exemplo, deve chegar ao varejo com preços entre R$ 2,5 mil e R$ 2,6 mil, ligeiramente inferior ao cobrado hoje pela Samsung e Philips (entre R$ 2,8 mil e R$ 2,9 mil). ?O fato é que não dá para entrar nesse segmento trabalhando com o preço lá embaixo?, diz Abdo Hadad, presidente da Cineral, que venderá a TV de 40 polegadas por cerca de R$ 3,4 mil. Samsung e LG cobram pelo produto entre R$ 3,7 mil e R$ 3,8 mil.

Marcas estreantes sempre dão uma chacoalhada em mercados que se comportam como verdadeiros monopólios. Foi com a chegada de novas empresas nos segmentos de DVDs e telas planas que o valor médio dos produtos desabou. No entanto, sem uma política comercial agressiva, fica difícil para as marcas ganharem mercado. Afinal, por que comprar uma CCE, e não uma Samsung, se a diferença na prestação mensal será mínima? ?O preço não deve cair muito. Os custos de produção das marcas são parecidos?, diz Waldemir Coleone, diretor da Lojas Cem. A Cineral já iniciou a produção de televisores de 32 e 40 polegadas. A venda começa em fevereiro. A princípio, serão produzidas cinco mil unidades ao mês e foram investidos R$ 500 mil no projeto. A Olevia Senna, uma parceria da americana Olevia com o empresário Leonardo Senna, deve começar a produção em Manaus até o mês de março. A empresa confirma que a fabricação iniciará neste ano, e trabalhará com preços de mercado. É mais gente na briga pelo mercado bilionário dos LCDs.