Se em 2010 uma notícia divulgasse que o Peixe Urbano ficaria quase um mês fora do ar, sem dar explicações a fornecedores e clientes, facilmente seria desacreditada. Vivendo o auge no ano de surgimento, a plataforma precursora no Brasil em compras coletivas e cupons de desconto colhia bons frutos do – até então – inovador e-commerce. Mas, pouco mais de uma década depois, a realidade da plataforma mudou completamente. O Peixe Urbano não resistiu às mudanças do varejo on-line e ficou para trás na corrida pela inovação. Na opinião do especialista em varejo Alberto Serrentino, as baixas margens e o lucro quase inexistente foram fatores de peso que desmotivaram os operadores e marcaram o destino da companhia. “Foram efeitos meteóricos que, da mesma maneira que explodiram, perderam vigor”, afirmou Serrentino. A combinação de tecnologia com uma maior gestão de clientes, de acordo com o consultor, também afetou o segmento. “Os modelos evoluíram e a ten- dência é que as marcas mantenham os fluxos dentro de suas próprias plataformas”.

Sentindo o ar faltar a partir de 2012, quando o mercado começou a entender que o modelo de negócios não era tão lucrativo assim, a companhia chegou a demitir centenas de funcionários. Tentando se recuperar, mudou toda a estratégia e passou a trabalhar com ofertas por geolocalização, além de manter as ofertas por mais tempo no site e retirar a necessidade de um número mínimo de compradores. As mudanças aumentaram a margem dos estabelecimentos e voltaram a conquistar espaço no mercado brasileiro. Mesmo assim, em 2014, o controle majoritário do Peixe Urbano foi vendido ao chinês Baidu com uma dívida de R$ 60 milhões. Mas tudo mudou novamente quando, a partir de 2017, a companhia chinesa optou por focar em inteligência artificial e vendeu a startup brasileira para o fundo de investimentos latino-americano Mountain Nazca, responsável pela operação do Groupon América Latina. Com a aquisição, as concorrentes diretos passam por um processo de fusão que resulta na criação de uma nova marca, Peixe. A união, no entanto, não foi o suficiente para segurar os negócios da marca no mercado brasileiro.

COMEÇO PROMISSOR Nadando no sucesso inicial, Peixe Urbano teve Luciano Huck como sócio minoritário (5%). Na foto, Huck ao lado dos sócios e fundadores da plataforma, Alex Tabor (esq.), Julio Vasconcellos e Emerson Andrade (dir.). (Crédito:Divulgação)

Pior que o declínio é o silêncio. Fora do ar desde o fim de janeiro, a companhia ainda não se posicionou e acumula reclamações de clientes que não conseguem acesso aos cupons e de fornecedores que não receberam o repasse das compras. Na quarta-feira (10), o Procon de São Paulo notificou a empresa e deu o prazo de até quarta-feira (18) para que se posicionasse sobre o motivo de instabilidade da plataforma e sobre as providências que seriam tomadas para atender os consumidores lesados. Até a publicação desta reportagem, o órgão de defesa do consumidor paulista permanecia sem o posicionamento da companhia. Procurada pela DINHEIRO, a Peixe Urbano também não respondeu às tentativas de contato.

FÔLEGO Se por um lado o isolamento social fechou lojas, bares e restaurantes em todo o planeta, a intensa migração da demanda (e oferta) para o e-commerce serviu como contraponto. Pelo menos para quem soube aproveitar a nova onda. Segundo dados do relatório Webshoppers, divulgado pela Ebit/Nielsen em outubro de 2020, as vendas on-line no Brasil apresentaram recorde de faturamento em 20 anos no pri-meiro semestre de pandemia. As altas de 47%, para R$ 38,8 bilhões, em relação ao mesmo período de 2019, e de 39% no número de pedidos, para 90,8 milhões, comprovam a tendência de um consumidor que está em casa mas não quer deixar de gastar. Segundo a Ebit/Nielsen, o crescimento esperado para este ano nas vendas do e-commerce nacional é de 26%, totalizando faturamento anual do setor em R$ 110 bilhões.

Exemplo de quem soube aproveitar o momento, o Cuponomia, site brasileiro de cupons de descontos e programa de cashback para o comércio on-line, faturou em janeiro de 2021 o equivalente a todo o ano de 2018. No total, a companhia conta com quase sete milhões de usuários cadastrados e mais de duas mil empresas parceiras. Para Ivan Zeredo, diretor de marketing da companhia, os comércios on-line e off-line não disputam espaço, e sim agregam à experiência do cliente. “São benefícios que se acumulam e formam um novo usuário a cada novidade do mercado”, afirmou. Com um leque de opções cada vez maior, a disputa entre os marketplaces aparenta estar apenas começando.