A COP-26 não poderia começar pior do que começou para o Brasil. No salão principal, líderes do mundo inteiro como o presidente americano Joe Biden, Angela Merkel — que se despede do governo alemão —, o príncipe Charles, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, entre tantos outros estavam reunidos com uma pauta em comum: debater ações contra as mudanças climáticas. O presidente Jair Bolsonaro não estava lá. O vice-presidente Hamilton Mourão, também não. Nem o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, esteve presente.

O chefe da República brasileira, sem credibilidade no mercado internacional, preferiu gravar um vídeo em que exalta que o Brasil é “parte da solução das mudanças climáticas e não o problema”. De fato, o País realmente tem potencial para sê-lo, mas se o exercesse, ele, o presidente da nação mais biodiversa do planeta, estaria no mais importante evento global sobre o meio ambiente. Falaria no púlpito, esbanjando autoridade de quem tem a Floresta Amazônica em seu território. Navegaria pelo salão conversando com os demais líderes da mesma patente exaltando a riqueza verde de seu País. Estaria sentado com as mais poderosas economias negociando a favor do Brasil. Mas preferiu um discurso vazio gravado em vídeo que foi exibido nos canais oficiais do governo brasileiro. É o Bolsonaro falando para sua própria platéia. Que chance perdida.

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Já ao ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, foi dada a missão de anunciar mais uma revisão das metas climáticas do Brasil. Ele o fez. De Brasília. Em português. Em uma  mesa redonda transmitida pelos canais sociais do governo e – exibida somente – no estande do Brasil no pavilhão da COP-26. Sem a presença de outras autoridades globais. O Brasil se diminuiu na COP-26. Se colocou na periferia. Não assumiu seu papel de fala. Perdeu a chance de se colocar como uma voz retumbante na economia verde internacional. O Brasil falou como é bonito para o próprio Brasil.

NOVAS METAS

Mas em meio a tudo isso, uma boa notícia: o País reviu suas metas para o Acordo de Paris anunciadas por Bolsonaro durante a Cúpula do Clima (abril de 2021). E a revisão foi para cima. Foi para mostrar mais ambição. Só que não é bem assim. De acordo com o governo federal, a meta de redução de gases de efeito estufa passou de 43% para 50% até 2030 e com o compromisso de chegar à neutralidade até 2050. A questão é que, ao anunciar a nova meta, o ministro Joaquim Leite só deu o percentual e não citou o quanto isso corresponderia em volume absoluto. Aí está o xis da questão.

De acordo com especialistas do Observatório do Clima, caso os 50% sejam aplicados sobre a base de cálculo do inventário mais recente de emissões do Brasil (contido na Quarta Comunicação Nacional, de 2020), o governo Bolsonaro empatará com a meta proposta seis anos atrás por Dilma. Ou seja, o governo reviu a meta para cumprir a meta de 2015.

Caso seja mantida a base do inventário anterior, a redução passa a ser de 218 milhões de toneladas de CO2, o equivalente às emissões anuais do Iraque. De qualquer maneira, números muito  irrisórios para um País que se pretende parte da solução e não do problema.