Desde que ingressou na farmacêutica suíça Novartis, em 2011, o executivo Alexandre Gibim repete a mesma rotina matinal. Ele chega às 6 horas na sede da filial brasileira, localizada na região do Brooklin Paulista, na cidade de São Paulo, e, literalmente, abre as portas da empresa. Em seu escritório, Gibim passa as duas horas seguintes – período em que o edifício ainda está completamente vazio e com boa parte das luzes apagadas –, refletindo sobre as estratégias da companhia. “Antes do frenesi do dia a dia é muito importante para mim esse momento de reflexão”, diz ele. Daqui para frente, o futuro da farmacêutica estará ainda mais presente nos pensamentos do executivo de 45 anos.

No último dia 16 de julho, o gaúcho assumiu a presidência da Novartis no Brasil, após três meses em que o comando da subsidiária ficou nas mãos de um interino, depois do antigo CEO, José Antonio Vieira, ter deixado o cargo. A nomeação ocorre em um momento desafiador. As vendas no Brasil ficaram estáveis no ano passado e a matriz passa por uma ampla reestruturação do negócio, com a venda de ativos, a separação de sua divisão de oftalmologia, a Alcon, e a chegada de um novo comandante global, o indiano Vasant Narasimhan, que assumiu o cargo em fevereiro deste ano.

Inovação: em 2018, a Novartis planeja investir mais de R$ 300 milhões em pesquisa e desenvolvimento no mercado brasileiro (Crédito:Divulgação)

Para ampliar as vendas no Brasil, uma das principais apostas da farmacêutica é o lançamento de novos produtos. Nos últimos três anos, a suíça investiu mais de R$ 220 milhões em pesquisa clínica no País. Neste ano, a Novartis prevê destinar 10% da receita líquida da filial brasileira para a área de P&D (pesquisa e desenvolvimento). Considerando que no ano passado o faturamento local foi de R$ 3 bilhões, e que a expectativa é ampliar a receita este ano, o valor será superior aos R$ 300 milhões. Na divisão de oncologia (segunda maior geradora de receitas do grupo, globalmente e também no Brasil), serão pelo menos dois lançamentos em 2018.

Na Sandoz, que produz biossimilares e genéricos, 60 produtos chegarão ao mercado, mas a grande parte extensões de linhas já existentes. Globalmente, os valores destinados a inovação são ainda mais superlativos. Em 2017, foram investidos US$ 9 bilhões em pesquisa e desenvolvimento – ou 20% da receita líquida global de US$ 49,1 bilhões – e a meta é manter essa fatia também para este ano. Até 2023, a Novartis planeja lançar 50 novos produtos no mundo, sendo que todos chegarão ao Brasil. “Não são inovações marginais. São todas disruptivas”, afirma Gibim.

A Novartis está desenvolvendo, por exemplo, pesquisas na área de terapia genética, para a produção de medicamentos para reverter a cegueira e para o tratamento da leucemia. Atualmente, existem 63 estudos clínicos em andamento, sendo 50 na área de oncologia e 13 na unidade de fármacos. Para Pedro Bernardo, presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), o ritmo de lançamentos previsto pela Novartis é expressivo. “É um ritmo muito acelerado”, afirma ele. “Se ela cumprir a previsão será muito significativo tanto para a indústria quanto para o Brasil.”

O líder: o CEO global da Novartis, Vasant Narasimhan, assumiu em fevereiro com o desafio de reesruturar a companhia (Crédito:AFP Photo / Ruben Sprich)

Com a ajuda dos lançamentos, a expectativa da Novartis para o mercado brasileiro é retomar a rota de crescimento, após registrar receita estável em 2017. Nos primeiros seis meses deste ano, as vendas cresceram 7%, acima da expansão global da empresa, de 5%. Segundo Gibim, há espaço para ampliar ainda mais esse ritmo até o fim do ano. “O segundo semestre é, tradicionalmente, mais forte para a indústria. Em parte, pelas compras governamentais que acontecem no fim do ano”, afirma o executivo. “Temos todas as condições para aumentar essa taxa de expansão.”

Na presidência da filial brasileira, Gibim terá de lidar, também, com as transformações que ocorrem na matriz. A Novartis vem colocando em curso, nos últimos anos, uma série de mudanças que passam, essencialmente, pela redução das áreas de negócio do grupo, com o objetivo de se transformar em uma empresa apenas de medicamentos. Nesse processo, a companhia vendeu, em 2015, suas áreas de vacinas e de saúde animal. Em março deste ano, se desfez de sua participação em uma joint venture com a GSK, por US$ 13 bilhões. Um mês depois, comprou a AveXis, focada em doenças raras, por US$ 8,7 bilhões.

No início deste ano, outra grande mudança foi posta em prática: a separação de sua divisão de oftalmologia, a Alcon. A previsão é que o processo seja concluído no início de 2019. Gibim explica que no Brasil a área também se tornará uma empresa independente, mas que o impacto não deve ser grande. “Para a Novartis, a mudança será muito boa, porque ela se tornará 100% focada em medicamentos e com uma capacidade maior de investimentos e de gerar inovação nessa área”, diz o executivo. Diante das mudanças, os desafios do novo presidente da filial não serão fáceis. Mas Gibim, que antes de entrar no mundo corporativo tinha o sonho de ser piloto de aviões de caça, parece ter a disciplina e a visão para levar a subsidiária a uma nova trajetória de expansão.