A euforia na expansão das telecomunicações tomou um banho de água fria. A falta de cabos metálico e óptico no Brasil poderá adiar em um ano a livre concorrência entre as operadoras de telefonia. A crise começou porque as empresas, estimuladas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), decidiram antecipar o cronograma de instalação das redes, previsto para janeiro de 2003. Cumprir o prazo antes do tempo, segundo o regulamento da agência, garante um cobiçado prêmio: operar em todo o País já a partir de janeiro de 2002. Na agência reguladora a notícia da falta de cabos ainda não chegou. O recado às operadoras é bem objetivo: ?Se falta cabo, é um problema a ser resolvido com os fornecedores?, avisa a direção da Anatel. Em resumo, datas e metas para expansão das redes não serão revistas.

Tanta demanda por cabos não deixou os fornecedores felizes como se esperava. Mesmo aumentando a capacidade de produção, a indústria ainda está longe de atender tantos pedidos fora do programa. Os problemas começaram no semestre passado, quando as principais operadoras quiseram antecipar em pelo menos um terço as encomendas do ano que vem. O aumento da demanda pegou os fornecedores despreparados. ?Estamos trabalhando em três turnos, sete dias por semana, e talvez não haja folga nas festas de fim de ano?, diz Guido Casanova, diretor de telecomunicações da Pirelli Cabos para a América do Sul. Na Pirelli, assim como em outros fornecedores, o abastecimento é normal para os pedidos feitos no início do ano. São as encomendas sem programação prévia que não conseguem ser atendidas. Na Telemar, os pedidos extras de cabos metálicos e ópticos ainda não foram 100% atendidos. ?Existe a possibilidade de importação. É uma forma de tentar escapar da crise de abastecimento?, explica Eduardo Michalski, diretor de suprimentos da companhia. Na Telefônica o problema se repete, mas a empresa garante que irá cumprir as metas da Anatel.

Para não deixar de atender as encomendas, a Furukawa, de Curitiba, aumentou a produtividade dos equipamentos de cabos metálicos em 20%, o que não foi suficiente para tirar os clientes da lista de espera. Na Telcon, de Sorocaba (SP), a capacidade de processamento de fibra óptica foi quintuplicada no fim do ano passado. Ainda assim, segundo Marco Vitiello, diretor comercial, não é possível produzir além do que foi encomendado no começo do ano. Em 1999, este mercado movimentou cerca de R$ 269 milhões e para este ano os fornecedores esperam aumentar suas vendas em 30%. E como acontece sempre na lei de oferta e procura, a explosão no consumo provocou um aumento de até 10% dos preços dos cabos. A previsão é de que nos próximos dois anos ainda haja uma demanda muito grande por cabos metálicos, que depois deverá se estabilizar. Já a dificuldade em encontrar cabos ópticos pode estar apenas no início. A fibra óptica, principal matéria-prima, está em falta no mercado mundial. O cenário poderá se complicar se o consumo aumentar tanto quanto os fornecedores esperam. O cabo óptico, apesar de custar caro, tem uma boa relação custo/benefício. Cada par de fios suporta 30 mil chamadas, contra uma do cabo metálico. Além disso, o óptico é ideal na transmissão de dados, um mercado que ainda tem muito o que crescer no Brasil.