Começa nesta terça-feira (26) a penúltima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2021. Qualquer que seja o resultado anunciado na quarta-feira (27), haverá críticas dessa entidade chamada mercado. O Banco Central (BC) pode ser questionado se honrar sua palavra, e também se não a honrar.

Explicando. Há pouco mais de um mês, na reunião mais recente, o Copom elevou a taxa referencial Selic em um ponto percentual, para 6,25% ao ano. No Comunicado divulgado no dia, e na Ata divulgada na semana seguinte, o Comitê dizia com todas as letras que “muito provavelmente” haveria uma alta semelhante na reunião que se inicia hoje. Ou seja, o Copom praticamente antecipou o resultado.

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Como a inflação rompeu a meta faz tempo e 2021 é um ano dado como perdido nesse aspecto, os especialistas do mercado financeiro rodaram suas planilhas e concordaram em um consenso de mais uma alta de um ponto percentual em dezembro, com a Selic encerrando o ano em 8,25%. E voltamos a fazer as contas em 2022, com todas as suas incógnitas eleitorais.

Porém, como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes. Nesse meio tempo, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a defender um aumento no auxílio às famílias de baixa renda. Uma atitude defensável e até louvável quando há tantos brasileiros recorrendo a caminhões de lixo para ter comida na mesa. Mas sem a contrapartida do corte de outros gastos, como as emendas secretas para deputados e as renúncias fiscais para empresários. Ou seja, qualquer esperança de cumprimento do teto de gastos esvaiu-se.

Sem a âncora fiscal, que é de responsabilidade do Congresso (ou seja, da sociedade brasileira – fomos nós que elegemos os congressistas), resta a âncora monetária para impedir uma explosão da inflação. Juros mais altos e por mais tempo do que se se imaginava antes, portanto.

Os impactos já se fizeram sentir no mercado. Na segunda-feira (25), o banco de investimentos JP Morgan elevou sua projeção para a Selic, estimando uma taxa de 11,25% em abril do ano que vem. Na ponta do lápis, uma alta de cinco pontos percentuais em apenas sete meses. A se confirmar, esse movimento seria uma das maiores guinadas monetárias no Brasil recente, comparável à elevação dos juros de 25% para 45% ao ano em março de 1999.

No entanto, naquele momento, o recém-empossado presidente do BC Armínio Fraga tinha de fazer algo drástico para impedir que a economia brasileira se desarticulasse devido à mudança atabalhoada do regime de câmbio administrado para o de câmbio flutuante. Agora, a alta é menos expressiva, mas promete ser mais duradoura e por um motivo mais grave.

Pior do que a alta da inflação provocada pelo aumento dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da eletricidade é a pouca disposição do governo para acertas as contas. Em poucos meses se inicia uma campanha eleitoral que promete ser polarizada e conturbada. E como disse a ex-presidente Dilma Rousseff, se “faz o diabo” para garantir a vitória nas urnas.

Sem a confiança dos agentes econômicos e com uma eleição presidencial à frente, são poucas as chances de uma retomada da âncora fiscal. Ou seja, isso indica juros altos e uma economia anêmica. Não por acaso, o Itaú Unibanco já divulgou suas projeções para o ano que vem, prevendo uma retração de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB).