A primeira visita do presidente americano, Donald Trump, a Bruxelas, é muito esperada pelas lideranças da União Europeia (UE), depois das várias declarações pessimistas por parte do magnata a respeito do bloco nos últimos meses.

O Trump que, durante sua campanha eleitoral, tratou Bruxelas como “buraco do inferno” é o mesmo que elogiou a Bélgica como um lugar “magnífico” e que se reúne nesta quinta-feira (25) com os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, respectivamente.

Não faltam assuntos de atrito entre ambos os sócios.

– Brexit –

As coisas começaram mal.

Poucos dias antes de sua chegada ao poder, Trump causou preocupação, ao sugerir que “outros países” também deixariam o bloco europeu, na esteira dos passos de Londres. Depois, amenizou o tom e felicitou os europeus por sua gestão do Brexit.

“Eu teria pensado, quando isso aconteceu, que outros seguiriam, mas acredito – de verdade – que a UE está recuperando o controle”, suavizou.

Para Trump, porém, Brexit continua sendo “algo excelente para o Reino Unido e uma coisa muito, muito boa para a UE também”.

– Computadores nos aviões –

A eventual proibição, por parte de Washington, de computadores portáteis na cabine dos aviões procedentes da Europa é o mais recente tema de conflito.

A medida seria uma ampliação de uma proibição em vigor desde março referente aos voos diretos para os Estados Unidos que tenham origem em vários países do Oriente Médio e do Norte da África.

É uma resposta ao temor das autoridades responsáveis pela luta antiterrorista de que grupos extremistas desenvolvam a capacidade de construir bombas camufladas, como baterias de aparelhos eletrônicos.

As autoridades europeias não se opuseram frontalmente à implantação da medida, mas incomodou que uma iniciativa desse tipo tenha sido tomada de forma unilateral, sem compartilhamento prévio de informações sobre as ameaças que justificasse tal decisão.

Depois de uma primeira reunião em Bruxelas, em 17 de maio, as autoridades americanas previram novas discussões, em Washington, durante a semana.

– Comércio –

O presidente Trump pediu ao Departamento americano do Comércio uma lista dos países responsáveis pelo déficit comercial dos EUA. Segundo o secretário da pasta, Wilbur Ross, os principais suspeitos seriam China e Japão, mas a lista também incluiria países europeus, como Alemanha e França.

Depois disso, Bruxelas enviou uma carta ao governo Trump para lembrá-lo de que, em matéria comercial, a UE deve ser considerada “um único bloco”.

Para os europeus, porém, o tema mais sensível é a reivindicação de Trump sobre protecionismo, o que levanta outras preocupações relacionadas às questionadas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Enquanto isso, o acordo de livre-comércio negociado desde 2013 entre Bruxelas e Washington, o TTIP, continua em ponto morto.

– Temas fiscais –

A decisão da Comissão Europeia de obrigar a Apple a devolver à Irlanda 13 bilhões de euros por “vantagens fiscais indevidas” causou irritação em Washington, que advertiu sobre uma abordagem unilateral nos temas fiscais.

Em 16 de maio, o Facebook foi condenado a pagar uma multa de 110 milhões de euros (120 milhões de dólares) por ter fornecido à União Europeia informação “incorreta, ou enganosa” sobre a compra do WhatsApp.

Vários gigantes americanos, como Amazon, Google e McDonald’s, estão sendo investigados pelas autoridades, e qualquer decisão desfavorável poderia elevar as tensões entre Bruxelas e Washington.

– Vistos –

No início de março, os deputados europeus pediram que se revertesse a isenção de vistos no caso de estadas curtas para os cidadãos americanos. Seria uma medida de reciprocidade diante da rejeição, por parte de Washington, de permitir o acesso ao país sem necessidade de visto de cidadãos de Bulgária, Croácia, Chipre, Polônia e Romênia – cinco dos 28 países da UE.

Até o momento, Bruxelas preferiu adotar uma “abordagem diplomática” e espera poder convencer os Estados Unidos, tal como fez com o Canadá.

– Clima –

As hesitações da administração Trump em torno do Acordo de Paris sobre o Clima obrigaram a Europa a ter um papel ativo nessa matéria.

A vontade do presidente americano de “pôr fim à guerra contra o carvão” causou consternação na Europa.

“A liderança da UE, da China e de outras grandes economias é, agora, mais importante do que nunca”, destacou o comissário europeu para o tema, Miguel Arias Cañete.