Cuba começará a vacinar 48 mil voluntários na próxima segunda-feira com seu imunizante experimental anti-covid Abdala, o segundo da ilha a passar para a terceira fase dos ensaios clínicos, a última antes de sua aprovação, anunciaram nesta sexta-feira (19) os cientistas responsáveis.

“Pensar que desde ontem (quinta-feira) autorizamos nossa segunda candidata à fase três de desenvolvimento clínico é algo que realmente nos motiva e nos dá muita energia para seguir trabalhando”, disse em coletiva de imprensa o vice-presidente do grupo estatal BioCubaFarma, Eulogio Pimentel.

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Ele destacou que existem no mundo 22 vacinas candidatas contra o coronavírus que estão na fase três e “a número 23 seria a Abdala”. “A capacidade inventiva dos nossos cientistas e tecnólogos fez com que 10% dessas candidatas (…) viessem de uma pequena ilha como a nossa”, acrescentou.

Em 4 de março, a vacina experimental Soberana 2 entrou na fase final dos estudos clínicos em Havana, com 44 mil voluntários. Se alguma delas alcançar a autorização final, se tornará a primeira vacina contra a covid-19 concebida e produzida na América Latina.

A terceira fase dos ensaios clínicos da Abdala será realizada nas cidades de Santiago de Cuba, Guantánamo e Bayamo, com 48 mil voluntários com idades entre 19 e 80 anos.

Eles “receberão três imunizações separadas por duas semanas cada um”, explicou a médica Marta Ayala, vice-diretora do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), que desenvolveu a vacina.

Após as primeiras fases (um e dois), “todos os indivíduos tiveram uma resposta de anticorpos específicos” e “essa resposta foi quatro vezes maior” do que antes de serem vacinados, indicou Ayala.

– “Países amigos” –

Como no caso do Soberana 2, antes mesmo da conclusão da fase três, os resultados parciais do estudo poderiam permitir o “pedido de autorização de uso emergencial porque é o que abrirá também o caminho (…) para ampliar a vacinação a toda a população”, apontou a vice-diretora.

Cuba, que estabeleceu a meta de vacinar toda a sua população ainda este ano, planeja concluir “no máximo até agosto” todas as doses de vacinas de que necessita, e depois continuará a produção para “fornecê-las a outros países amigos”, anunciou na quarta-feira o presidente da BioCubaFarma, Eduardo Martínez.

Na semana passada, Cuba enviou 100 mil doses da Soberana 2 ao Irã para testar sua eficácia, e Havana também fez contatos com o México e o Vietnã.

“O CIGB no momento mantém relações ativas com China, México, Venezuela, República Dominicana e outros países, com os quais há anos de experiência comercializando nossos produtos e, em particular, nossas vacinas”, disse Pimentel.

Sob embargo dos Estados Unidos desde 1962, Cuba começou a desenvolver suas próprias vacinas na década de 1980 e atualmente produz 80% dos imunizantes que inclui em seu programa de vacinação.

Com base nessa experiência, os cientistas estão trabalhando em quatro candidatas à vacinas contra o coronavírus: Soberana 1 (em fase dois), Soberana 2 (fase três), Abdala (fase três) e Mambisa (fase um). Uma quinta, a Soberana+, é uma reformulação da Soberana 1, destinada a pacientes com a doença.

Todas as vacinas cubanas contra a covid-19 são feitas de proteínas recombinantes, a mesma técnica utilizada pela empresa de biotecnologia americana Novavax.

Cuba, com 11,2 milhões de habitantes, foi pouco afetada pelo coronavírus, com 65.149 infecções e 387 mortes registradas.