O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou nesta segunda-feira (22) que a pandemia esteja sendo usada por determinados países, os quais não mencionou, para suprimir “vozes dissonantes” e silenciar a imprensa.

“Com a pandemia como pretexto, as autoridades de alguns países tomaram duras medidas de segurança e adotaram duras medidas para reprimir vozes dissonantes, abolir a maioria das liberdades fundamentais, silenciar os veículos de comunicação independentes e obstaculizar o trabalho de organizações não governamentais”, criticou o chefe da ONU perante o Conselho de Direitos Humanos, em uma mensagem de vídeo pré-gravada.

Assim, acrescentou, “defensores dos direitos humanos, jornalistas, advogados, ativistas e até profissionais de saúde têm sido objeto de detenções, processos e intimidações e vigilância por criticarem as medidas – ou falta de medidas – tomadas para enfrentar a pandemia”.

Além disso, “o acesso a informações vitais se viu dificultado em certa ocasiões, enquanto a desinformação mortal se amplificou, inclusive por parte de alguns líderes”, continuou ele, sem dizer quais.

Por conta da pandemia de covid-19, a 46ª sessão do CDH ocorre, pela primeira vez de sua história, de forma virtual, até 23 de março.

Se o formato online limita o intercâmbio entre os delegados, “o aspecto positivo é que há uma participação que nunca vimos no passado” no Conselho, comemorou o embaixador suíço na ONU, Jürg Lauber.

Prova disso é que mais de 130 chefes de Estado, Governo e ministros devem falar durante os primeiros três dias da sessão, incluindo os presidentes venezuelano, Nicolas Maduro, e afegão, Ashraf Ghani.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, deve falar na quarta-feira, marcando o retorno, como observador, dos Estados Unidos neste fórum da ONU, do qual o país saiu em 2018 sob a liderança do ex-presidente Donald Trump.

O chefe da ONU dedicou grande parte do seu discurso à pandemia, lamentando que “o acesso a informações vitais foi, por vezes, dificultado, enquanto a desinformação mortal foi amplificada, inclusive por alguns líderes”.

– “Falha moral” –

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também denunciou “as restrições ilegítimas às liberdades públicas (e) o uso excessivo de poderes emergenciais” no contexto da pandemia.

“O uso da força não vai acabar com esta pandemia. Mandar críticos para a prisão não vai acabar com esta pandemia”, insistiu, sem citar diretamente algum país.

A covid-19 também “agravou as vulnerabilidades” e perturbou a vida de centenas de milhões de famílias que perderam o emprego ou viram sua renda cair, ressaltou Guterres.

“A pandemia afetou desproporcionalmente mulheres, minorias, idosos, pessoas com deficiência, refugiados, migrantes e povos indígenas” e “a pobreza extrema está ganhando terreno”, disse ele.

“Anos de progresso na igualdade de gênero foram eliminados”, estimou ainda.

O secretário-geral da ONU criticou o “nacionalismo das vacinas”: “a incapacidade de garantir o acesso equitativo às vacinas representa uma nova falha moral, nos faz retroceder”.

Em sua intervenção, Guterres também pediu “para intensificar a luta contra o ressurgimento do neonazismo, da supremacia branca e do terrorismo racial e etnicamente motivado” e para pôr em prática uma ação concertada em escala global para acabar com esta “grave e crescente ameaça”.

Mais do que uma ameaça terrorista interna, estão “se tornando uma ameaça transnacional”, considerou.