17/10/2018 - 8:43
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, reuniu-se nesta quarta-feira, em Ancara, com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para abordar a questão do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, enquanto novas revelações acusam a Arábia Saudita de ter ordenado o assassinato.
Depois de viajar a Riad, Pompeo desembarcou nesta quarta-feira na capita turca e se encontrou com Erdogan. Também se reunirá com o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu.
O desembarque do chefe da diplomacia americana coincide com a publicação na imprensa turca de revelações segundo as quais o jornalista foi torturado e assassinado por agentes sauditas no consulado de seu país em Istambul no dia 2 de outubro.
O jornal Yeni Safak afirma que teve acesso a gravações de áudio e informa que Khashoggi foi torturado durante um interrogatório e que os agentes sauditas cortaram seus dedos, antes de “decapitar” a vítima.
Apesar dos múltiplos indícios que apontam o envolvimento da Arábia Saudita no caso, o governo americano parece dar o benefício da dúvida a um país aliado, insistindo na vontade de Riad de realizar sua própria investigação.
Um dia depois do desaparecimento de Khashoggi, colaborador do Washington Post e crítico do príncipe herdeiro saudita Mohamed Bin Salman, fontes do governo turco afirmaram que ele foi assassinado por uma equipe de 15 agentes enviados por Riad.
– Membros do entorno do príncipe –
Um dos homens identificados pelas autoridades turcas como agente enviado a Istambul faz parte do entorno de Bin Salman, afirmou na terça-feira o jornal New York Times.
De acordo com o NYT, que publicou várias fotos, Maher Abdulaziz Mutreb acompanhou o príncipe em sua viagem aos Estados Unidos em março, assim como a Madri e Paris um mês depois.
O New York Times menciona mais três suspeitos vinculados, por testemunhas e outras fontes, aos serviços de segurança do príncipe.
Um quinto homem, identificado como Salah Al Tubaigy, ocupou cargos de alta responsabilidade no ministério saudita do Interior e na área médica, completou o jornal, ao afirmar que “uma personalidade deste nível só pode ser comandada por uma autoridade saudita de alta patente”.
O NYT afirma ainda ter confirmado que “ao menos nove dos 15 (suspeitos) trabalharam para os serviços sauditas de segurança, o exército ou outros ministérios”.
O Washington Post afirmou que 11 dos 15 suspeitos mencionados pelas autoridades turcas estão vinculados aos serviços de segurança sauditas.
Para o New York Times, o fato de que os suspeitos têm relação com o governo e vários deles com o príncipe herdeiro “poderia tornar muito mais difícil absolvê-lo de qualquer responsabilidade” no desaparecimento do jornalista.
– “Uma explicação completa e definitiva” –
A imprensa americana informou na segunda-feira que a Arábia Saudita cogitava reconhecer a morte do jornalista durante um interrogatório no consulado.
De acordo com a CNN, Riad preparava um relatório com a explicação de que a operação foi realizada “sem autorização nem transparência” e que “as pessoas envolvidas seriam consideradas responsáveis”.
Apesar de todas as acusações contra Riad, Washington apoia o plano da Arábia Saudita de fazer sua própria investigação e insiste que o rei Salman e o príncipe herdeiro negam saber o que aconteceu.
Na terça-feira, em uma entrevista à agência AP, Donald Trump pediu a aplicação do princípio de presunção de inocência para a Arábia Saudita.
Depois dos encontros com o rei Salman e com o príncipe herdeiro, Pompeo afirmou que as investigações de Riad não excluirão ninguém.
“Considero ao concluir os encontros que há um compromisso sério para determinar todos os fatos e prestar contas, inclusive estabelecer a responsabilidade de dirigentes e altos funcionários da Arábia Saudita”, declarou Pompeo.
“O príncipe se comprometeu a que o trabalho do promotor apresente a todo o mundo uma explicação completa e definitiva, com total transparência”, completou o secretário de Estado.