O jornalista alemão Niklas Franzen disse que se o gesto nazista do comentarista Adrilles Jorge fosse feito em uma emissora da Alemanha provavelmente o comentarista seria preso na mesma hora. “Alguém chamaria a polícia e ele teria muitos problemas. Provavelmente seria preso já na redação”, disse o jornalista para o portal Fórum.

Franzen disse que, na Alemanha, as leis são rígidas com a propaganda do nazismo ou negação ao Holocausto, apesar de os neonazistas alemães sempre acharem brecha para expressar discursos e símbolos de ódio.

Nesta terça-feira (8), Adrilles foi demitido da Jovem Pan e um inquérito foi instaurado pelo Ministério Público de São Paulo. O comentarista estendeu a palma da mão e, para os promotores, no contexto em que o gesto foi feito, foi uma referência à saudação de Adolf Hitler, que pode configurar crime no Brasil. Adrilles afirmou que se tratou apenas de um ‘tchau’ que foi deturpado.

Adrilles fez o gesto ao comentar as declarações do podcaster Bruno Aiub, o Monark, que no dia anterior defendeu a existência de um partido nazista no Brasil. O podcaster pediu desculpas e justificou que estava bêbado durante a gravação do podcast.

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Niklas Franzen pesquisa a ascensão da extrema-direita no Brasil e já havia chamado a atenção para essa utilização de símbolos, de maneira disfarçada, quando um assessor do governo Bolsonaro fez um gesto de supremacistas brancos e justificou que estava arrumando a lapela do paletó.

Um estudo da antropóloga Adriana Dias mostra que as células de grupos neonazistas cresceram 270,6% no país entre janeiro de 2019 e maio de 2021. Foi em janeiro de 2019 que Jair Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil e, para Niklas Franzen, há relação entre a conduta do atual presidente com o crescimento do discurso nazista e de ódio. “O presidente, abertamente, banaliza o holocausto, busca proximidade com grupos neonazistas, é abertamente racista e homofóbico”, afirma Franzen.

Para o jornalista, houve também um aumento das reações contrárias as manifestações de ódio. “As pessoas que não fazem parte desses grupos [nazistas e de ódio] estão cada vez mais atentas. Há resistência contra esses fatos. Acho que, por um lado, há, sim, um crescimento do neonazismo no país, que tem a ver com o fato de Bolsonaro ser presidente. Por outro lado, vejo um antifascismo crescendo também, e muitas pessoas fazendo ligações entre lutas que são muito importantes, a luta contra o antissemitismo, contra o racismo, contra a homofobia”, disse o jornalista ao portal.

“Deveria ser um consenso que a defesa do nazismo não pode ser utilizada como liberdade de expressão. É um crime e tem que ser punido. O nazismo é uma ideologia que ameaça pessoas, é uma ideologia que matou milhões de pessoas só por serem judeus, gays, negros, ciganos. Então, isso não pode ser tolerado”, afirmou Franzen.