Os 20 milhões de usuários da internet brasileira estão concentrados nas capitais e grandes cidades do interior, principalmente nos municípios do Sul e Sudeste. Fora desse universo há milhões de potenciais internautas que mesmo diante da inexistência de provedores em suas cidades acessam a rede por meio de ligações interurbanas. É uma operação que pode significar um acréscimo de R$ 360 no final do mês na conta telefônica. Mas um novo provedor de internet, batizado de Samba, quer proporcionar uma economia de até 90% para esses clientes espalhados em pequenas localidades do País. Nesta semana, após assinar um contrato com a operadora de longa distância Intelig, ele pretende atender essa demanda oferecendo conexão por R$ 0,06 por minuto contra os R$ 0,50 das tarifas interurbanas. ?Somos a Gol da internet?, afirma Carlos Eduardo Sedeh, diretor de operações do Samba, numa referência à companhia aérea brasileira que ganhou mercado ao reduzir o custo das passagens.

O planejamento durou um ano. Sedeh, de 26 anos, e seu sócio, André Fernandes, de 29, bateram em várias portas e terminaram na Intelig para apresentar o projeto. A operadora encampou a proposta ao perceber uma oportunidade de otimizar a sua rede digital já construída e utilizada por alguns clientes corporativos e outros provedores de internet. Os planos dos sócios do Samba são ambiciosos. Eles querem chegar a 4,4 mil municípios que hoje não têm acesso local à rede. O investimento será de R$ 15 milhões conseguidos de investidores de risco. ?Com o Samba teremos uma chance de aumentar o tráfego em nossa rede?, afirma Wilton Serrate Júnior, diretor corporativo da Intelig. O modelo de negócio entre o provedor e a operadora envolve exatamente a geração de tráfego. De cada minuto gerado para a Intelig, o Samba terá um percentual sobre os R$ 0,06. Pode parecer pouco, mas levando em consideração que o brasileiro navega em média 720 minutos por mês e multiplicando esse número por milhares de usuários é possível entender porque Sedeh e Fernandes tiveram a idéia. O usuário do Samba terá ainda de pagar a assinatura, que varia de R$ 14,90 a R$ 24,90.

?A proposta parece interessante, mas há riscos que se assemelham a uma loteria?, afirma Alexandre Coelho, diretor do provedor Portonet, no município de Porto Seguro, no Sul da Bahia. Na sua empresa, Coelho tem 350 clientes numa população de 80 mil habitantes. Na cidade, a maior companhia de acesso é o Universo On Line, com menos de 1,2 mil usuários. É um mercado muito retraído por barreiras financeiras. Pelos cálculos de Coelho, que está nesse jogo de internet no interior do País há quatro anos, a média de conectados em pequenas cidades não ultrapassa 2,5% da população. Mesmo assim, os sócios do Samba acham que estão no caminho certo. Eles estão tão confiantes que também pensam em conquistar a fatia do mercado que engloba cerca de 900 cidades com provedores locais, além das capitais. ?Quando se fala em popularização da internet, as pessoas pensam que é levar acesso para as classes C e D. Mas é mais do que isso. Muitos das classes A e B também não têm internet?, afirma Fernandes.