Pois muito bem.” Assim a influenciadora Julia Petit inicia seus vídeos no YouTube. Produzindo conteúdo para a internet há 16 anos, ela criou uma base de seguidores que a acompanham em busca de dicas de maquiagem e beleza. Até que, em 2019, com a criação da Sallve, passou a ser empreendedora no segmento de produtos dermocosméticos. Com sua origem digital, a marca se fortaleceu nas redes com apoio de influenciadores e logo se tornou conhecida daqueles que mais consomem por meio desses canais: a geração Z e os millennials. Em nova fase, a empresa entrou no universo de makes, relançando oficialmente a extinta Contém 1g no dia 17 de janeiro. A marca chegou a ter 94 franquias e receita (atualizada) de R$ 154,5 milhões em 2017. Em agosto de 2018, porém, entrou em processo de recuperação judicial.

Foi nessa condição que Julia Petit e seus sócios na Sallve enxergaram uma oportunidade de ampliar os negócios. Compraram a marca um ano e meio atrás, antecipando o plano de entrada no segmento de makes, originalmente previsto para 2024. Com o movimento, a intenção é que a Sallve agregue à sua base de consumidores os antigos fãs da Contém 1g, incorporando ainda a lembrança que a marca possui no imaginário coletivo.

Para o lançamento, a linha de maquiagem oferece 50 SKUs (unidade de manutenção de estoque, na sigla em inglês). De acordo com CEO e sócio da Sallve, Daniel Wjuniski, a marca tem potencial para ser maior que a atual controladora. Na lista de produtos estão os clássicos Contém 1g, atualizados para se adequar aos padrões da Sallve. Entre as atualizações mais significativas está a produção vegana e, portanto, livre de crueldade animal. Há ainda novos produtos que seguem tendências internacionais e das necessidades dos consumidores brasileiros, considerando tipo de pele e preferências.

Se for bem sucedida como planejam os sócios, a nova fase da Contém 1g abrirá espaço para que a Sallve invista em outros segmentos com futuras aquisições. Segundo o CEO Wjuniski, o grande plano é transformar a Sallve em uma house of brands do universo de beleza. “Para a gente esse é um passo muito relevante. Vamos olhar, sem dúvida, para outros mercados”, disse.

A estratégia de agregar marcas diferentes dentro de uma mesma empresa é um movimento crescente no varejo, com diversas companhias e segmentos buscando essa diversificação de atuação e representação. Para o sócio da Sponsorb e cofundador da Malbec Angels, Fernando Moulin, a segmentação atende a um novo perfil de cliente. “As empresas precisam encontrar marcas que ressoem para alguns desses segmentos.” Segundo ele, nem sempre ter apenas uma ou duas marcas é capaz de trazer uma proposta de valor que agregue para diferentes tipos de consumidor. Com esse conceito em mente, os planos futuros da Sallve já incluem a entrada nos segmentos de cabelo e de fragrâncias.

EXPANSÃO Depois de encontrar seu espaço no setor de beleza, a Sallve criou um plano para se aproximar mais dos consumidores por meio de pontos de vendas físicos. O movimento foi concretizado em parceria com grandes redes de farmácia. Primeiro foi a RaiaDrogasil, seguida por Panvel e Venâncio. Isso fez com que os produtos de skincare chegassem a mais de 2 mil pontos pelo País, movimento importante, principalmente para atingir regiões em que a logística é mais demorada. “O ano passado foi dedicado a provar que a marca conseguiria ir para um canal que não fosse direct to consumer e teria sucesso”, disse Wjuniski. Para este ano, o plano é dobrar o número de pontos de venda físicos, fechando 2023 com produtos em 4 mil lojas. Isso permitirá também equilibrar a balança dos canais de venda, com 50% de participação digital e 50% no varejo presencial. Atualmente, segundo Wjuniski, a fatia on-line é maior.

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“Para este ano, o plano é dobrar o número de pontos de venda físicos, com produtos em 4 mil lojas” Daniel Wjuniski CEO da Sallve.

Nesse crescimento físico também entra a Contém 1g. Ainda sem previsão concreta para ter lojas próprias como havia em seus tempos áureos, o planejamento se baseia no mesmo formato usado com a Sallve: fazer seu nome no digital para depois ir para o mundo físico, com a diferença de que, com um conhecimento de marca maior, esse processo deve ser mais rápido. A estratégia é reforçada por margens achatadas, que permitem manter um preço médio de produto até 40% mais baixo que seus concorrentes, e pela força das comunidades digitais. Assim, a Sallve quer garantir uma porção maior do bilionário mercado de cuidados pessoais. De acordo com a Euromonitor, esse segmento deverá movimentar R$ 124,8 bilhões até 2026.