Foi como se um médico tivesse saído da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e avisado aos familiares do paciente que, depois de aplicar uma dose cavalar de remédios, o enfermo se recuperaria no quarto. Assim foi recebida a notícia divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira, 1º de março, de que o Produto Interno Bruto (PIB) atingiu R$ 6,6 trilhões e cresceu 1% em 2017, depois de duas quedas consecutivas de 3,5%. A recessão já passou e os números refletem essa realidade. No ano passado, a produção industrial cresceu 2,5% depois de três anos de perdas sucessivas.

De acordo com um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), 58 dos 93 segmentos industriais tiveram um volume de produção maior do que vinham tendo nos últimos três anos. O que teve maior êxito foi o automobilístico, que representou metade do bolo. No campo, o que se viu foi um show. O PIB agropecuário deu um salto de 13% e representou 0,7% do crescimento de 1% da economia brasileira. O consumo das famílias subiu 1% e o índice de confiança do consumidor atingiu 87,4 pontos em fevereiro deste ano, quase dez pontos a mais do que em meados de 2016. Não bastasse isso, a arrecadação de janeiro alcançou R$ 155,6 bilhões, o melhor resultado para o período desde 2014.

O crescimento do PIB, é verdade, também contou com uma ajudinha do clima – não o político, é bom frisar – porque a supersafra de grãos atingiu quase 240 milhões de toneladas no ano passado, um crescimento de 29,5% em comparação a 2016. Mas o papel de São Pedro ficou restrito a esse fator. Os outros remédios que fizeram a economia reagir foram muito bem aplicados pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e pelo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Quando assumiram, em 2015, a inflação estava em 10,7% e, em 2017, atingiu 2,95%, o menor patamar desde 1999.

A taxa básica de juros, a Selic, batia em 14,25%. Em janeiro, estava fixada em 6,75%, a mais baixa da história. Com essa política, foram dadas as condições para a redução do endividamento das empresas e das famílias, e a possibilidade de turbinar o consumo. No ano passado, isso foi feito com a liberação das contas inativas do FGTS que injetou R$ 44 bilhões no mercado. O investimento externo voltou a dar as caras e as privatizações e concessões, principalmente no setor elétrico, despejaram bilhões de reais na economia.

As projeções para 2018 são ainda mais animadoras. Os estudos de bancos e consultorias apontam para um crescimento do PIB na casa dos 3%. A julgar pelo descrito acima, está tudo resolvido? Ao contrário. Ainda temos mais de 12,7 milhões de desempregados e a recuperação dos postos de trabalho será lenta. Afinal, o crescimento atual é sobre uma terra arrasada e as empresas ainda têm uma grande capacidade de produção ociosa. O País também tem de resolver com urgência a questão fiscal.

O déficit não deve ultrapassar os R$ 159 bilhões estipulados para este ano, mas o teto dos gastos já começa a ser rediscutido porque, provavelmente, o próximo governo não conseguirá ficar dentro da meta. A reforma da Previdência, postergada para 2019, precisa – e deve – ser discutida pelos candidatos ao Palácio do Planalto. Caso contrário, o crescimento de agora se transformará em mais um dos vários voos de galinha que o País se acostumou a dar. O quadro clínico do paciente, por enquanto, é estável, mas a bactéria que quase o levou à falência múltipla dos órgãos ainda está lá. É hora de matá-la e não é preciso ser um especialista para saber como.

(Nota publicada na Edição 1059 da Revista Dinheiro)