Foi a partir de uma experiência de nove meses como voluntário em Uganda que o inglês Cameron Saul decidiu criar a Bottletop, em 2002. O período vivido na África funcionou como um laboratório sobre como a criatividade pode influenciar o comportamento. Entre as descobertas, estava a possibilidade de confeccionar peças de vestuário a partir de materiais descartados, como tampinhas de garrafas de refrigerante (por sinal, esse é o nome da grife, em inglês). Filho do fundador da Mulberry, marca que ficou famosa pelas bolsas femininas de alto padrão, Saul adicionou ao material que descobriu em Uganda o couro que era sobra no chão da fábrica do pai. Uma campanha na revista Vogue ajudou a bolsa ecológica a se tornar um hit global. Nascia ali uma história de sucesso que combina ativismo social, sustentabilidade e design de luxo. Com bolsas à venda por até 650 libras (o equivalente a R$ 4,5 mil), parte do faturamento da Bottletop é destinado a ONGs.

ESG DA MODA Cameron Saul, fundador da Bottletop, aplica sustentabilidade em seus processos de produção (Crédito:Divulgação)

Mas foi durante uma passagem pelo Brasil, em 2005, que a história de Saul deu outro salto. Em Salvador, ele viu mulheres criando acessórios de moda a partir dos lacres de alumínio de latinhas de refrigerante e cerveja. Não tardou para que a Bottletop abrisse um ateliê em Itapuã, na capital baiana. “As mulheres locais aprenderam técnicas de artesanato incrivelmente rápido”, disse Saul. “Elas mostraram destreza e aptidão para criar e para trazer ideias”. E, novamente, ele incorporou o couro ao design das peças, em um trançado à mão dos dois materiais que ganhou o nome de Mistura Weave. A técnica foi desenvolvida em Paris, em colaboração com o ex-diretor criativo da LVMH Vincent Du Sartel. Em outra parceria de sucesso, Saul atraiu o designer nova-iorquino Narciso Rodriguez. Um dos modelos que ele assina apareceu nos braços da atriz Sarah Jessica Parker na sequência da série Sex and The City intitulada And Just Like That.

DO NEPAL AO ACRE Para manter seu ativismo sem cobrar preços exorbitantes, Saul criou as togetherbands. São pulseiras feitas por mulheres resgatadas do tráfico humano das ruas de Katmandu, no Nepal. No Brasil, as togetherbands importadas podem ser adquiridas no e-commerce Shop2gether. Custam entre R$ 110 e R$ 195. Há, contudo, uma versão nacional. O projeto mais recente para confecção das togetherbands é uma parceria com uma comunidade indígena do povo Yawanawá, no Acre. A Bottletop montou um ateliê de fabricação de pulseiras com sementes de açaí. São 17 modelos, cada uma pintada com uma cor em alusão aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. O fio elástico que une as sementes é feito de um material chamado Parley Ocean Plastic, que usa resíduos plásticos recolhidos nas praias antes de chegar ao oceano. Uma nova coleção das Yawas Bands chega ao mercado em abril deste ano, quando é celebrado o Dia da Terra.