Ao encarar no primeiro trimestre de 2021 a maior a taxa de desemprego desde 2012, o Brasil também precisa olhar de frente quem são, em sua maioria, esses 14,8 milhões de brasileiros sem colocação no mercado de trabalho. E o perfil reflete a desigualdade que esse País arrasta através dos séculos: é mulher, preta, nordestina, jovem e de baixa escolaridade.  Tradicionalmente na base da pirâmide essas mulheres são chefes de seus lares, possuem filhos igualmente vulneráveis socialmente e estão mais propensas a sofrer violência.

Desemprego sobe para 14,7% e atinge recorde histórico de 14,8 milhões de brasileiros

Os dados alarmantes foram divulgados nesta quinta-feira (27) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, compilada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Entre janeiro e março deste ano, o desemprego no País atingiu 14,7% da força de trabalho, uma alta de 0,8 ponto percentual sobre um ano antes, ou 880 mil pessoas que perdem seus empregos no período. O número é o maior desde o início da série histórica, em 2012, e foi puxado pelo resultado bastante negativo de estados como Bahia, onde o desemprego bateu 21,3%, Pernambuco (21,2%) e Sergipe (20,9%). Segundo a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, além do Nordeste, o Norte também apresentou uma alta significativa de pessoas em busca de emprego. “Há um efeito sazonal de início de ano, mas é preciso olhar os dados com cautela e atenção”, disse.

Entre as mulheres, 54,4% estão fora do mercado de trabalho. Outro dado interessante diz respeito à raça da pessoa em busca de emprego. Enquanto a taxa de desemprego entre brancos é inferior a 10%, entre os pretos o índice é de 18,6%. Entre os jovens, a taxa de desemprego (que está em 14,7% na média total) é de 31%. Para Isabela Feitosa, professora de macroeconomia e desenvolvimento social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os dados reforçam a necessidade de se pensar políticas públicas de geração de emprego e renda específicas. “Não basta ajudar empresas e soltar auxílio emergencial. É preciso entender quem é esse desempregado, onde ele está e como podemos prepará-lo para o futuro”.

O que vem acontecendo no Brasil pode ser visto em muitos países no mundo e tem nome: pobreza de gênero. Um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) revelou que, mesmo com os auxílios financeiros do governo, 36% das mulheres negras estavam abaixo da linha da pobreza, seis pontos percentuais acima do verificado antes do início da pandemia. “Pensamos muito em como reabrir a economia, mas pouco em como vamos recolocar milhões de pessoas nesse novo mundo”, disse Isabela. Se hoje a cara do desemprego do Brasil é mulher, jovem, preta e nordestina, a face de um futuro melhor também precisa ser.