As altas temperaturas estão diretamente ligadas aos negócios da Gree. A multinacional chinesa tem na essência aquilo que faz de melhor: aparelhos de ar-condicionado. E a maior fabricante do mundo torce pelo aquecimento da economia do Brasil. Em 2020, com as pessoas em casa devido à pandemia, o mercado nacional apresentou crescimento. Já no ano passado houve uma desaceleração diante da retomada de outros segmentos, como turismo, e com as pessoas saindo mais de casa, segundo Nicolaus Cheng, diretor da companhia no País.

O recuo nas vendas, de acordo com o executivo, está relacionado ao aumento dos custos, à inflação e à variação cambial. Isso sem contar o que ainda vem pela frente — eleições (outubro), Copa do Mundo do Catar (entre novembro e dezembro) e início da vigência do novo padrão de eficiência energética do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), em 2023. “Tudo isso gera uma grande incerteza para a Gree e para os demais fabricantes”, afirmou o executivo.

Diante desse cenário, a bandeira admite reduzir a produção. A ideia é buscar se adequar ao mercado, para equalizar o posicionamento no ano que vem. “Além disso, neste ano aumentamos os preços no primeiro trimestre, mas tivemos de recuar em alguns casos para os valores aplicados no ano passado”, disse. “Não conseguimos repassar esses aumentos.” Com isso, a margem para a empresa neste ano “é baixa, bem apertada.”

Os custos em geral no Brasil, segundo Cheng, aumentaram de 40% a 50% durante a pandemia, além do frete internacional, que cresceu mais de cinco vezes (partiu de em média US$ 2 mil o contêiner para cerca de US$ 11 mil). Ao menos 85% dos componentes utilizados na fabricação de aparelhos de ar-condicionado no País são provenientes da China. “A Gree tem capacidade para produzir 1 milhão de peças [ar-condicionado] por ano. Planejamos alcançar 3 milhões [sem prazo definido].” OTIMISMO A aposta está na capacidade da fábrica em Manaus, que teve o potencial ampliado de duas para seis linhas de produção desde 2018. Nesse intervalo, o volume de vendas aumentou 80%, e o faturamento cresceu mais de 200%. “Estamos otimistas para o desempenho do mercado em 2023 e 2024.”

A proposta de aumento da produção se mostra arrojada diante da desaceleração dos negócios no mercado brasileiro em 2022. Segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), a produção de equipamentos residenciais chegou a 3,3 milhões de unidades no ano passado, crescimento de 10,9% na comparação com 2020, mas que deve chegar a apenas 6% neste ano (3,5 milhões de exemplares) em relação a 2021.

Segundo a empresa, a cada três aparelhos de ar-condicionado fabricados no mundo, uma unidade é da marca. “A companhia se mantém na liderança na comercialização na China há 20 anos seguidos, e há dez no mercado global.” São cerca de 400 milhões de consumidores no mundo.

O mercado brasileiro é, na visão do executivo, o mais importante da Gree fora da China, por ter recebido a primeira fábrica da marca no exterior. “O Brasil é importante estrategicamente para a nossa matriz.” Isso fica evidente em investida recente com a abertura de escritório comercial em São Paulo. A ideia é fortalecer a presença no eixo Rio-São Paulo.

O crescimento da Gree no Brasil está refletido na planta no Amazonas. Desde 2017, ano em que Cheng chegou ao Brasil, o número de colaboradores cresceu 500%, de 200 para 1,2 mil. O plano de expansão inclui novas linhas de produtos, casos de refrigeradores, geladeiras, ventiladores e climatizadores. “Temos planos de trazê-las para cá.” Isso, é claro, se a economia não esfriar de vez. E o mercado mais ainda.