A segunda quinzena de junho será lembrada como o momento da grande reversão das expectativas com relação aos juros brasileiros e internacionais. Até o dia 11, os prognósticos eram da continuidade das políticas de expansão monetária e juros baixos. O cenário seguia inalterado: os principais bancos centrais manteriam uma estratégia expansionista. A meta era compensar o impacto negativo das medidas contra a pandemia sobre a economia global.

Apesar de os indicadores econômicos mostrarem uma aceleração dos preços e uma melhora do mercado de trabalho, o discurso dos bancos centrais não mudava. Especialmente nos Estados Unidos. Sempre que possível, Jerome Powell, presidente do Fed, o banco central americano, reiterava a opção por conviver com um pouco de inflação para não abreviar o processo de recuperação econômica. Isso significa manter os juros perto de zero e continuar injetando US$ 120 bilhões todos os meses na economia americana.

No entanto, na semana passada, esse cenário mudou drasticamente. Após uma reunião do Comitê de Mercado Aberto (Federal Open Market Committee, Fomc), no qual o Copom foi inspirado, alguns dos participantes comentaram claramente que o fim desse processo deveria ser antecipado. Em vez de começar a reduzir as compras em 2024, como vinha sendo declarado, o corte poderia ocorrer em 2023. Foi o que bastou para alterar drasticamente as expectativas.

O movimento se aprofundou na sexta-feira (18), devido aos comentários de James Bullard, governador do Fed regional de St. Louis. Bullard afirmou que as taxas de juros dos Estados Unidos poderão começar a subir já em 2022. Apesar de os governadores serem relativamente independentes e suas opiniões individuais poderem ser diferentes da estratégia do Fed, esses comentários mostram o fortalecimento de uma tendência de normalização da política monetária.

O que isso indica? É o início de um movimento global de aperto monetário e redução da liquidez, ou apenas uma desaceleração dos movimentos de estímulo? Ainda não há uma resposta definitiva para essa pergunta. No entanto, é possível analisarmos essa questão focando no que interessa, os dados econômicos que serão anunciados nos próximos dias.

Nesta semana serão divulgados indicadores importantes. Na terça-feira (22) sai a Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que elevou a Selic para 4,25 por cento ao ano. E na sexta-feira o IBGE vai divulgar o IPCA-15 referente a junho, que serve como uma prévia da inflação “oficial” medida pelo IPCA. No mercado internacional, vários PMIs, indicadores antecedentes de atividade econômica, deverão mostrar como as economias desenvolvidas estão se comportando. E eles deverão definir o movimento dos mercados ao longo de todo o segundo semestre.