No noroeste de Botsuana, o Delta do Okavango é um imenso pântano que se dispersa no deserto do Kalahari, sem desaguar no oceano. Nesse cenário, entre as copas das árvores da Reserva de Caça Moremi, foi inaugurado em janeiro deste ano o Xigera — pronuncia-se quígera. O empreendimento é ousado, fruto de um sonho do magnata sul-africano da indústria de viagens de luxo Stanley Tollman. Há quatro anos, com um orçamento de US$ 30 milhões e sem entrar em muitos detalhes, o empresário encomendou ao arquiteto sul-africano Anton de Kock um “acampamento extraordinário”.

O resultado é um palácio de madeira, aço e vidro que desafia o conceito do luxo selvagem. Em perfeito isolamento, a uma distância de dois dias de barco até a cidade mais próxima, o alojamento abriga em duas pequenas ilhas 12 suítes conectadas por 1,8 km de passarelas de madeira. Ao todo, elas acomodam no máximo 24 hóspedes. Cada uma é equipada com ar-condicionado com eficiência energética e água quente constante, fornecida por gêiseres termodinâmicos. A decoração nos quartos foge dos clichês em tons de cáqui, típicos dos campos de safári africano. Aqui abusa dos destaques em cores fortes e das peças artísticas de bronze e de madeira produzidas artesanalmente por 76 dos mais aclamados designers locais. Há também uma moderna adega com rótulos do vinhedo sul-africano de Bouchard Finlayson.

Quem se hospeda no Xigera têm à disposição uma biblioteca equipada com material de pesquisa sobre a história natural e cultural de Botsuana e o apoio de especialistas que informam sobre o trabalho de conservação da região. O programa de bem-estar inclui duas salas de spa com tratamentos 100% naturais e academia de última geração, com direito a uma piscina de águas serenas debruçada para o Delta do Okavango.

BAIXO IMPACTO, ALTA RECEITA A propriedade que abriga o Xigera tem sistema híbrido de energia solar renovável, que cobre 95% das necessidades de energia locais e garante economia anual de cerca de 160 mil litros de diesel, com emissão mínima de carbono. E entre os próximos planos está o abastecimento dos veículos para safári com energia solar – os pontos de carregamento já estão instalados.

Todo esse luxo entranhado na selva soa exagerado, mas se alinha perfeitamente com a política bem-sucedida de Botsuana de afastar o turismo de massa para proteger o meio-ambiente. O território de 581 mil quilômetros quadrados abriga imensas savanas e maior concentração de elefantes do mundo. Com acomodações remotas, a estratégia do país é atrair um número reduzido de visitantes que gastem muito durante a viagem, preservando assim suas extensões selvagens exclusivas e intocadas. Justificando assim os preços exorbitantes — o país é, hoje, um dos destinos mais caros da África. No Xigera, a estadia de quatro noites não sai por menos que o equivalente a R$ 50 mil por pessoa. O pacote inclui refeições, bebidas, safáris, passeios de barco e até o voo para a pista de pouso do “acampamento”.