Um peixe-boi da Flórida engoliu tantos sacos plásticos que uma bola do tamanho de um melão se formou em seu estômago, outra em seus intestinos, e ele morreu. Um filhote de tartaruga teve seus frágeis intestinos perfurados por vários fragmentos de plástico de alguns poucos milímetros.

Esses são alguns dos quase 1.800 casos de tartarugas e mamíferos marinhos que ingeriram, ou ficaram enredados em objetos plásticos, na costa dos Estados Unidos desde 2009, de acordo com um relatório publicado nesta quinta-feira (19) pela ONG americana Oceana, que descreve o impacto acumulado da poluição do plástico na fauna marinha do país na última década, apesar da generalização da práticas de reciclagem.

Os objetos mais comumente ingeridos por animais são linhas de pesca, embalagens de comida, sacos plásticos, bolas e lonas.

Mais de 900 espécies, incluindo aves e peixes, são afetadas pelo problema. Muitas delas são protegidas, ou se encontram em risco de extinção, diz a Oceana em seu estudo.

No caso de tartarugas e mamíferos, a legislação obriga as agências públicas a registrarem em bases de dados cada incidente observado. Essa informação não havia sido coletada, porém, até a ONG fazer esse levantamento.

“Provavelmente há muitos outros casos que foram observados, ou registrados”, disse à AFP a principal autora do estudo, a cientista Kimberly Warner.

Embora não seja uma investigação exaustiva, a Oceana espera que o relatório sirva de “catalisador” para mudar o comportamento das pessoas.

Das tartarugas que ingeriram plástico, 20% eram bebês.

“Imediatamente depois de romperem suas cascas, em sua primeira viagem ao oceano, já estão comendo o plástico que está nas nossas praias”, afirmou Warner.

O bloqueio dos intestinos é a causa mais comum da morte destes animais, já que não conseguem se alimentar. Ou por algum tipo de anel de plástico envolve seu pescoço e os asfixia à medida que crescem e “não conseguem mais respirar”, explicou a cientista.

“E, às vezes, o peso dos elementos em que estão presos os impede de subir à superfície para respirar”, completa.

As fontes de poluição são difíceis de contabilizar: resíduos leves em costas e praias, aterros sanitários mal fechados, ou resíduos transportados por navio, parte dos quais cai no mar.

A solução passa, segundo ela, por essas três instâncias e, em primeiro lugar, pela redução da dependência do plástico.

“As empresas embalam tudo em plástico”, lamenta a pesquisadora.